Depois do post anterior, Strella do Dia, segue mais um vídeo do Concerto Confissões, proposto por Mim, Petrônio Joabe e Lana Sheila. O Concerto reúne excertos do livro Confissões de Agostinho. Neste vídeo, é possível ouvir um excerto do livro mais um belíssimo prelúdio de Bach executado a dois violões.
Oxalá, seja um belo "prelúdio", mesmo, para o fim de semana para todos. Boa audição.
sábado, 27 de outubro de 2007
quarta-feira, 24 de outubro de 2007
Santa Maria Strella do Dia
Da série de cantigas atribuídas a Afonso X, El Sábio. Esta é a cantiga de número 100, em que o poeta pede a Virgem para mostrar-lhe o caminho a Deus e que Ela seja a sua guia. Aqui, uma releitura com viola de 10, violoncelo, voz e pandeirola. Abaixo, seguem os versos.
Cantiga 100
[Esta é de loor.]
Santa Maria, strela do dia,
mostra-nos via pera Deus e nos guia.
Ca veer faze-los errados
que perder foran per pecados
entender de que mui culpados
son; mais per ti son perdõados
da ousadia que lles fazia
fazer folia mais que non deveria.
Santa Maria, strela do dia,
mostra-nos via pera Deus e nos guia.
Amostrar-nos deves carreira
por gãar en toda maneira
a sen par luz e verdadeira
que tu dar-nos podes senlleira;
ca Deus a ti a outorgaria
e a querria por ti dar e daria.
Santa Maria, strela do dia,
mostra-nos via pera Deus e nos guia.
Guiar ben nos pod' o teu siso
mais ca ren pera Parayso
u Deus ten senpre goy' e riso
pora quen en el creer quiso;
e prazer-m-ia se te prazia
que foss' a mia alm' en tal compannia.
Santa Maria, strela do dia,
mostra-nos via pera Deus e nos guia.
terça-feira, 23 de outubro de 2007
“Filósofo é tudo doido!”
Não tenho dado um bom testemunho por onde tenho andado. Prova disso é esta frase que ouvi no último sábado. Muito frequentemente, vou ao Sebo o Livreiro, do amigo Rai, ali no Beco. Com o tempo, acabei por fazer amizade com algumas garotas (Lilian e Wanna). E, nessa de ficar vasculhando, também falo, claro. E como não tenho nenhum compromisso com a coerência – e também pra descontrair o ambiente – acabo falando uma série de coisas destituídas de qualquer nexo. Uma blasfêmia aqui, uma heresia mais adiante, uma infâmia acolá. As meninas vão ouvindo. Volta e meia, perguntando: “Como é, Pai?”. Fustigado, me empolgo e ai é que eu começo a falar com muito maior eloqüência. Cito pensamentos profundos que ninguém nesse mundo leu em outra parte, faço suposições sobre a existência, teatralizo o armagedon. Pois bem. Numa dessas manhãs em que prefiro silenciar e tão somente folhear um ou outro livro (sim, muito ácaro), eis que ouço de Wanna – que não se dirigia a ninguém, apenas pensava em voz alta –: “Rapaz, filósofo é tudo doido!”. Virei-me para atentar para ela – já que, a rigor, era por minha causa que a frase fora proferida. Ao que ela disse: “É isso mesmo, Sena. Eu tava pensando naquele papo seu sobre esse tal de Dionísio. Sei não, viu?!.” Não sei exatamente o que foi que disso sobre Dionísio mas, pelo fruto, se deduz a árvore. Preferi não retrucar a Wanna. Tudo que eu dissesse seria usado contra mim. Calei e voltei aos ácaros. E comecei a dizer para mim mesmo que a humanidade é que era louca e que eu é que estava certo. Comecei a pensar sobre todos os grandes nomes que eram tidos como loucos e, no fundo, eram gênios. Comecei a pensar que, no fundo, onde ela via loucura, era lirismo; onde ela via loucura, era poesia; onde ela via loucura, eram malabarismos mentais de um pretenso halterofilista cerebral; onde ela via loucura, era uma nova proposta existencial; onde ela via loucura, era alguém que não queria ter “aquela velha opinião formada sobre tudo”. Depois parei de pensar e levantei-me do banquinho que me fora oferecido. Eu estava babando. Fiquei circulando por ali, gesticulando e falando, falando baixinho e olhando para o chão. Bati um livro de História Geral na cabeça, levemente. Babei mais um tanto. Saí porta afora, deixando um quê de perplexidade no semblante das meninas. Depois, ao invés de pegar o carro, saí voando até minha casa. Depois, teletransportei-me até a casa de meu amigo Dernival, no Vila América. Almocei. Voltei. Peguei o carro. Sintonizei numa rádio qualquer. Voltei no tempo. Escondido, fiquei ouvindo Elton Quadros. Ofereci-lhe um prestobarba. Ele me chamou de surfista prateado, eu o chamei de sofista. Ele ficou muito zangado.
Fábio Sena
UMA BREVA "HISTÓRIA" DA ÓPERA - parte II
OS INOVADORES I
Muitos são os compositores que irão contribuir para do desenvolvimento da ópera e sua linguagem, estrutura e musicalidade.
Destacaremos aqui, nesta nossa breve “história” da ópera, três deles: Mozart, Wagner e Verdi.
Nesta semana, enfocaremos o compositor da “ópera das óperas”:
MOZART (1756-1791) compôs sua primeira ópera aos 12 anos de idade. Das suas mãos surgiram obras brilhantes do repertório operístico: As Bodas de Fígaro, Cosi Fan Tutte e A Flauta Mágica.
No entanto, discutiremos aqui aquela que é considerada por muitos como a mais perfeita ópera de todos os tempos – Don Giovanni (Com libreto de Lorenzo da Ponte)!
Podemos afirmar que Don Giovanni é um resumo do gênio criador de Mozart. Nela é contada a história de um conquistador (o famoso Don Juan) que, desafiado a um duelo pelo Comendador, mata seu adversário. Com esta morte, Don Giovanni será perseguido por Otávio que pretende vingar a morte do pai de sua noiva Anna.
Na fuga, Don Giovanni, chega à aldeia de Zerlina que se prepara para casar com Masetto e corteja a jovem que só não cai nas “garras” do conquistador porque é avisada por Elvira, ex-mulher e vítima de Don Giovanni, sobre a índole de seu algoz.
Após uma série de acontecimentos burlescos (troca de papéis, seduções, serenatas, brigas) Don Giovanni chega ao cemitério gargalhando das aventuras recentes e depara-se com o fantasma do Comendador que o conclama ao arrependimento de seus atos e, ao recusar, Don Giovanni morre entre chamas.
Com a morte de Don Giovanni, as personagens restantes Elvira, Zerlina, Anna, Masetto, Leporello e Ottavio cantam em coro uma “moral da história”:
“Fique então aquele patife
Com Perséfone e Plutão
A nós todos
Oh, boa gente
Repitamos alegremente
A antiqüíssima canção
Este é o fim
De quem faz mal (...)
A morte dos pérfidos
É sempre igual à vida”.
A ópera Don Giovanni de Mozart envolve tragédia, comédia, amor, sensualidade, infidelidade, morte, paixão, lei, glutonaria e a relação indivíduo-sociedade interligados, do começo ao fim, com a música.
A orquestra “participa” do inconsciente das personagens, os cantos estão entre os mais belos, a fusão entre a música e este drama gracioso beira a perfeição.
Abaixo alguns exemplos:
Don Giovanni: A cena do Comendador
A belíssima cena do aparecimento do comendador para Don Giovanni.
terça-feira, 16 de outubro de 2007
"OSSO DURO DE ROER..."
Acabo de chegar do cinema... Assisti ao filme fenômeno - TROPA DE ELITE!
Confesso que quando fui ver o filme, estava meio desanimado. Assisti a alguns trechos de entrevistas do diretor José Padilha e não gostei muito do que ouvi.
Antes de ver o filme, acreditei que havia um entusiasmo exagerado de alguns autores que costumo ler e seus comentários sobre o filme:
A sessão estava vazia, ainda bem...
Ao ver o filme, percebi que as escolhas de utilização da câmera, dos cortes e da construção do roteiro eram competentes.
Mas, fiquei surpreendido com o fato do filme realmente tratar das questões sobre o tráfico, polícia, corrupção, honestidade e da liberdade (enquanto aceitação das responsabilidades) sem firulas ou justificações idiotas.
Não pude ficar imune ao seminário sobre Foucault e nas suas tantas deturpações sobre à realidade.
Não pude ficar imune a constatação de que quem financia o tráfico é quem compra/consome às drogas.
Não pude ficar imune ao treinamento em que os soldados são chamados à hombridade.
Todas essas coisas são uma descrição da realidade, em alguns casos, observados pelos meus olhos de classe média e “acadêmico”.
Antes de ver o filme, participei de uma destas brincadeiras da internet em que respondendo a um questionário, você ficava sabendo qual personagem você se parece. Como não havia visto o filme, achei interessante responder e ver o resultado.
Vendo o filme entendi... O sujeito identificado com a minha “personalidade” era o que: pensa antes de agir, é estudioso; as vezes, contemporiza, ficou com a mulher mais bonita do filme, é preto e usa óculos!
Nunca imaginei que um teste de internet pudesse “dissecar” tanto uma personalidade! Até porque, quando ele sabe o que tem que fazer, ele faz!
Devo voltar a esse filme e fazer um comentário menos “impressionista”. No entanto, quero fazer um último comentário hoje.
Tolstoi escreveu o, para mim, melhor romance já escrito na história da literatura: GUERRA E PAZ. Além de outras preciosidades.
Mas, lendo o livro, também precioso, de Paul Johnson - OS INTELECTUAIS percebi que as idéias, opiniões e mesmo a vida desse romancista russo, eram de uma mediocridade tão absurda, que fica difícil acreditar que era a mesma pessoa. Daí, parecer-me que o mesmo se dá, guardadas as devidas proporções, com o José Padilha. A obra supera o entrevistado!
- O texto que publicaria hoje com a segunda parte da “história” da Ópera fica para a próxima semana.
- Este texto, como todos os publicados aqui, neste blog, é a exposição de minhas opiniões e não refletem as opiniões dos outros colaboradores.
- Depois reviso o texto...
segunda-feira, 15 de outubro de 2007
ALBERTO DA CUNHA MELLO
Fiquei chocado ao receber a notícia da morte do poeta Alberto da Cunha Mello, hoje, com dois dias de atraso.
A morte desse grande poeta brasileiro já seria, em si, uma triste notícia. Mas, no domingo, Vanderli Marques escreveu um texto, neste blog, sobre a poesia contemporânea no Brasil e cita esse pernambucano.
Quem quiser conhecer mais sobre o Alberto da Cunha Mello, click neste link: http://www.albertocmelo.com/
Alberto da Cunha Mello, que Deus lhe guarde!
domingo, 14 de outubro de 2007
POESIA CONTEMPORÂNEA NO BRASIL - I
Este texto despretencioso foi escrito para servir de referência em uma mesa redonda sobre poesia contemporânea, cujo objetivo era despertar novos leitores para a poesia de hoje no Brasil, em um projeto chamado Circo de Cultura.
Por Vanderli Marques da Silva
O objetivo do presente texto é apontar para a possibilidade de leitura de poesia contemporânea, no Brasil, a despeito da oferta de um subproduto cultural feito pelos meios de comunicação de massa e, muitas vezes, vorazmente consumida pelo grande público.
Retomamos, com esse propósito, uma polêmica evidenciada nos anos recentes de 1998 por meio da revista Poesia Sempre, ligada à Biblioteca Nacional. Essa instituição propunha-se a elaborar uma lista com os vinte maiores poetas brasileiros vivos, seja lá o que eles quiseram dizer com “maiores”, excetuando João Cabral de Mello Neto, cuja figura, segundo a revista, pairava soberanamente acima de todas as demais. Para tal, foram elencados 119 cardeais, escolhidos entre poetas e estudiosos de Literatura, que, em um verdadeiro conclave, elegeriam os 20 papas vivos das nossas letras.
A votação e a lista, embora tenham chegado a termo, não vieram a ser divulgadas em edição especial da revista, porque, como era de prever, em um ambiente em que os egos borbulham, alimentados pelas chamas da vaidade de cada poeta, o que no meu ver é natural e muito saudável, em um país de grande vivacidade cultural, como o Brasil, o tempo fechou – confesso que ter acompanhado esse qüiproquó nas páginas de alguns jornais, disponibilizado no site Jornal de Poesia, dirigido pelo poeta cearense, Soares Feitosa, ele mesmo um dos 20 eleitos e, paradoxalmente, com a lista, ou com listas, me fez conhecer alguns nomes a que, certamente, seria mais difícil o meu acesso, dentre outras coisas, em função dos problemas de circulação dos livros de poesia, de tão restrito interesse em nosso país.
Pois bem, listas com o fito de canonizar escritores ou de torná-los “artistas oficiais” sempre houve. No entanto, aquele que sempre dá o parecer final a respeito de listas e de cânones é infenso a todo tipo de suborno, sedução ou bajulação, é o tempo. E é ele, e somente ele, quem faz as listas, senão definitivas, ao menos mais duradouras.
Mas o que nos interessa, na verdade, não são as listas pelas listas, mas o que elas podem suscitar de discussão, bem como alguns elementos que, em se tratando da lista em foco, estão dentro (ou fora) dela: os poetas e as suas poesias.
Então, foi por meio da lista da revista Poesia Sempre, que conheci novos poetas e busquei conhecer a obra de outros como Ivan Junqueira, se não me falha a memória, o segundo mais bem votado; de Gerardo Mello Mourão, o mais furiosamente lamentado ausente da lista; de Alberto Cunha Mello, outro ausente, grande poeta pernambucano, cuja circulação da obra deixa a desejar. Vale dizer também, ainda sobre a bendita lista, que Hilda Hilst não quis votar e pediu para não ser votada; que o poeta baiano, Ildásio Tavares, protestou, menos a ausência do seu nome, do que o fato de a edição da revista Poesia Sempre ser financiada com o dinheiro do contribuinte, categoria de que também faz parte; que o poeta Soares Feitosa, incluído e muito bem votado, afirmou que em sua lista pessoal – todos têm a sua lista também vou fazer a minha- seria GMM – inquestionável, desbancando João Cabral do Olimpo – e mais vinte; que o próprio GMM enviou uma carta à Biblioteca nacional, reiterando a sua indiferença diante de críticas e elogios à sua obra, mas lembrando dos apupos que recebera ao longo da sua vida de figuras de “calibre mínimo”, tais como Ezra Pound, Jorge Luis Borges e Carlos Drummond de Andrade, para ficar apenas nesses três; e se era para fazer marketing pessoal, poder-se-ia lembrar da sua indicação, em 1979, ao Nobel de literatura.
Dito isso, e limitando-nos apenas a isso, já que esta polêmica, não obstante aos quase dez anos do seu início, ainda reverbera nos que se interessam pela matéria, intentamos mostrar como a poesia brasileira continua viva, produtiva, instigante e, por que não dizê-lo, acessível a quem procura. E sabemos que é um número bastante significativo, dentro dos limites, é claro, do possível para um país como o Brasil, onde ler o que quer que seja ainda pode ser chamado de luxo.
Por fim, chamarei poetas – incluídos e excluídos, municipais, estaduais e federais – para falar por si próprios. Gerardo Mello Mourão e um poema do livro O País dos Mourões, em que consubstancia, com metáforas belíssimas, as lembranças de um seu antepassado, seu nascimento, vida, morte e eterna memória. Ivan Junqueira e um poema do livro Sagração dos Ossos, chamado “Onde estão?”, reflexão cheia de sensualidade sobre a vida e a morte. Finalmente, Bruno Tolentino e um poema do livro Os Deuses de Hoje, O Signo, poema sobre a procura de sentido para a vida, hermética e única, de cada um.
P. S. Os poemas acima referidos e a lista de votantes e votados serão postados nas próximas semanas.
terça-feira, 9 de outubro de 2007
UMA BREVE "HISTÓRIA" DA ÓPERA - Parte I
Em qualquer pesquisa realizada entre os brasileiros, sobre os grandes orgulhos de nossa nação, encontraremos ao lado do futebol e das belezas naturais – a música.
No entanto, a música popular será, em seus diversos gêneros (samba, bossa nova, baião, vanerão, catira etc), o destaque.
Tenho a impressão de que no Brasil, a música erudita, vive escondida em guetos, em círculos tão restritos (ou pernósticos) que dão a impressão de vivermos num regime de embargo da música clássica.
A ópera, dos gêneros musicais, é um dos mais complexos e possui uma longa história de sucesso que, em nossos dias, encontra-se basicamente reduzida às coletâneas de árias populares ou concertos de tenores em Copa do Mundo e similares. Desculpem o exagero...
Porém, visando diminuir nossas suspeitas sobre o pouco conhecimento deste gênero entre os ouvintes e leitores deste texto, resolvi realizar uma breve introdução à ópera.
ORIGEM DA ÓPERA
Caso tivéssemos como objetivo encontrar o significado resumido do que seja ópera, poderíamos dizer: A culminância (ou o mais pretensioso) dos gêneros artísticos, uma vez que pretende unir teatro, música, literatura, filosofia, voz, instrumentos, artes plásticas e dança.
Os primeiros libretos foram escritos, provavelmente, por Ottavio Rinuccini por volta de 1600. Para estes libretos, a música foi composta por Jacopo Peri.
Mas, o que vale destacar é o surgimento do canto “monódico”, ou nas palavras de Otto Maria Carpeaux “É a vitória do indivíduo sobre o coro; é o individualismo na música”.
Logo surge a ópera florentina que acompanha o estilo do barroco nas artes da época: exagero, realismo e pompa.
Neste contexto, o compositor Monteverdi aparece como uma figura fundadora.
Cláudio Monteverdi (1567-1643), além de ser um grande e revolucionário compositor de música sacra, pode ser considerado também o inaugurador da ópera moderna. Quando era maestro na corte de Mântua recebeu a solicitação do conde Vincent de Gonzague para realizar uma obra nos moldes da representação de Eurídice de Jacopo Peri.
Daí surgirá à primeira ópera de Monteverdi – Orfeo (libreto de Alessandro Striggio). Uma fábula mitológica baseada na história do poeta grego que apaixonado por sua esposa Eurídice, morta por uma cobra, decide adentrar o Hades (reino dos mortos) para convencer o deus a trazer Eurídice de volta ao mundo dos vivos.
Convencido o deus Hades, Orfeu recebe uma única condição – Não olhar para traz antes de sair do mundo dos mortos. Apesar disso, o poeta não resiste às ansiedades do coração apaixonado e ao olhar a procura de sua amada perde novamente a sua querida Eurídice. O coração de Orfeu é lançado, mais uma vez, nas sombras da tristeza e do desconsolo. Neste momento, o deus Apolo, comovido com o desespero do esposo, convida-o para o Olimpo onde encontrará Eurídice como uma estrela.
Esta fábula musical é apresentada por ocasião de um casamento. E, a partir destas bodas, a música consolidará a ópera como um dos seus gêneros mais significativos.
Porém, a importância da ópera de Monteverdi não está apenas em ser uma obra fundadora, ela servirá como paradigma para as futuras óperas. Nela encontramos em estado de crisálida o recitativo, a ária, a declamação lírica, o bel canto, o duo, o balé, o leitmotiv e a orquestra. E, é claro, os temas dos Amores (desesperados) e das Mortes (trágicas)!
Não deixa de ser emblemático que o surgimento da ópera se dê com a história de um semideus grego, poeta, cantor, apaixonado e desconsolado.
Apesar da importância de Orfeo; a obra-prima de Monteverdi é um drama histórico intitulado O Coroamento de Popéia (libreto de Giovanni Francesco Busenello).
A jovem Popéia nutre um amor interesseiro pelo imperador romano Nero. O filósofo Sêneca tenta em vão dissuadir Nero de repudiar a sua esposa Otávia e, com isso, consegue o ódio do imperador e é condenado à morte. Apesar das artimanhas envidadas por Otávia e pelo ex-amante de Popéia Othon, nada consegue evitar que Popéia se torne a imperatriz romana.
O Coroamento de Popéia marca o início da ópera com profundidade psicológica, demonstrando uma inter-relação surpreendente entre a música e a história de cada personagem.
Antecipa, também, do ponto de vista musical a ária da capo (ária da retomada) que será utilizada por Richard Wagner mais de duzentos anos depois. A audácia e a grandiosidade desta obra de Monteverdi influenciará os maiores compositores de óperas de todos os tempos, entre eles, Mozart e Verdi.
Algumas demonstrações:
quarta-feira, 3 de outubro de 2007
SEM NADA PARA DIZER - THOMAS MERTON
“ Na sociedade tecnológica, na qual os meios de comunicação e significação tornaram-se fabulosamente versáteis e estão à beira de um desenvolvimento ainda mais prolífico - graças ao computador com sua memória inesgotável e sua capacidade de absorção imediata e organização dos fatos -, a natureza mesma e o uso da própria comunicação tornam-se inconscientemente simbólicos. Embora agora tenha a capacidade de comunicar instantaneamente qualquer coisa em qualquer lugar, o homem se descobre sem nada para dizer. Não é que não haja muitas coisas que poderia comunicar, ou deveria tentar comunicar. Ele deveria, por exemplo, ser capaz de encontrar-se com o seu semelhante e debater os meios de construir um mundo pacífico. É incapaz desse tipo de confronto. Em vez disso, dispõe de mísseis balísticos intercontinentais que podem levar a morte nuclear a dezenas de milhões de pessoas em poucos instantes. Esta é a mensagem mais sofisticada que o homem moderno parece ter para transmitir ao seu semelhante. Ela é, claro, uma mensagem sobre ele mesmo, sua alienação de si e sua incapacidade de entrar em acordo com a vida.”
Escrito em 1985 e publicado no Brasil em Amor e Vida, (Martins Fontes Editora, São Paulo), 2004. p. 69
Retirado do site:http://reflexoes-merton.blogspot.com
Escrito em 1985 e publicado no Brasil em Amor e Vida, (Martins Fontes Editora, São Paulo), 2004. p. 69
Retirado do site:http://reflexoes-merton.blogspot.com