quarta-feira, 16 de maio de 2007

Um poema de Rainer Maria Rilke

A PANTERA

Rainer Maria Rilke


Varando a grade, a nada mais se agarra
o olhar tomado de um torpor profundo:
para ela é como se houvesse mil barra
se, atrás dessas mil barras, nenhum mundo.

Seu firme andar de passos gráceis, dentro
dum círculo talvez muito apertado,
é uma dança de força em cujo centro
ergue-se um grande anseio atordoado.

De raro em raro, só, o véu das pupilas
abre-se sem ruído — e deixa entrar
a imagem, que sobe, pelas tranqüilas
patas, ao coração, para aí ficar.

(Tradução de capixaba Geir Campos)

3 comentários:

Anônimo disse...

teste 2

joão marcos disse...

Catingueiros abre muito bem o espaço para a poesia com este belo texto do Rilke, o poeta que deixou tudo (até a família), tomou um castelo emprestado de um amigo e lá se internou para escrever poesia. É quase possível se sentir acossado pela presença tão "presente" desta pantera. Pode-se ouvir a maciez de seus passos cadenciados numa perigosa marcha da morte. A tradução pareceu-me muito boa, embora eu não leia alemão. Confesso que gostaria muito de conhecer a realização poética deste texto no original.
Um abço Elton

Elton Quadros disse...

O poema do Rilke em alemão

Abraços!

Der Panther
Im Jardin des Plantes, Paris

Sein Blick ist vom Vorübergehn der Stäbe
so müd geworden, dass er nichts mehr hält.
Ihm ist, als ob es tausend Stäbe gäbe
und hinter tausend Stäben keine Welt.

Der weiche Gang geschmeidig starker Schritte,
der sich im allerkleinsten Kreise dreht,
ist wie ein Tanz von Kraft um eine Mitte,
in der betäubt ein großer Wille steht.

Nur manchmal schiebt der Vorhang der Pupille
sich lautlos auf -. Dann geht ein Bild hinein,
geht durch der Glieder angespannte Stille -
und hört im Herzen auf zu sein.




Rainer Maria Rilke, 6.11.1902, Paris