(A Nau dos Insensatos - Hieronymus Bosch)
Tive, nos últimos dias, alguns problemas "computadorísticos"! Mas, acredito que agora tudo estará mais calmo.
Hoje, por falta de concentração, deixo aqui uma longa citação do livro: Padre Penido - vida e obra de D. Odilão Moura (Editora Vozes, 1995).Este trecho, trata do realismo em filosofia que, atualmente, tem ocupado a minha "meditação filosófica". Além de tratar da relação da filosofia com as ciências.
O texto trata, não de um realismo materialista ou pessimista, mas, de um realismo que significa buscar a compreensão do mundo em toda a sua dimensão (boa leitura e em breve voltarei com um texto sobre o assunto):
"Em nossos tempos, quando o homem está submergido nos interesses cotidianos, totalmente abafado pelas atividades econômicas, sociais, dificilmente encontrará o lazer indispensável para dedicar-se às coisas do pensamento puro. Perdemos grandiosas perspectivas da transcendência do saber filosófico. Conseqüentemente surgem os desentendimentos na vida social e o desgoverno da vida pessoal. Pensar bem, com idéias certas e orientadoras é o primeiro efeito do saber filosófico. Por isso, Pascal aconselha: 'Travaillons don a bien penser: voila le principe de la morale'.
Pensar bem, serena e coerentemente, não só é resultante de uma autêntica filosofia, como também, para aqueles que ainda não se afundaram na rotina diária, predisposição para penetrar o mundo das idéias transcendentes.Entrar no mundo encantador dessas idéias; eis o primeiro ofício do filósofo. Visa o filósofo a contemplação da verdade. Ele não a cria: descobre-a. Um dos mais graves erros de quem se aventura aos transcendentes vôos do pensamento está em tentar criar a verdade. A grande tentação de tantos pseudopensadores consiste em procurar estabelecer novos sistemas filosóficos. Se tantas inteligências geniais fracassaram neste intento - um Descartes, um Leibnitz, um Bergson, e muitos outros - não serão os diletantes em filosofia que revolucionarão, com suas elocubrações imaginativas, em geral repassadas de vaidade e presunção, o mundo do saber transcendente. O desejo de ser original destrói inicialmente o trabalho filosófico.
Qual o propósito do verdadeiro filósofo? Descobrir a verdade, esteja ela onde estiver, e contemplá-la. Contemplá-la não nos panoramas de uma imaginação criadora (Bergson nos mostra a 'função fabuladora' dos povos da sociedade estática), nem nos altiplanos da própria inteligência desligada do real, mas nas coisas tais como são. Docilidade ao real, ter os pés na terra, elevar-se acima do saber científico para mais bem coordená-lo, explicar a linguagem acessível o mistério do universo, tal é a tarefa do filósofo. S. Tomás, mestre do realismo, ensina-nos: 'O estudo da filosofia não visa saber o que os homens pensam, mas qual seja a verdade das coisas'(...).
O filósofo é o profissional da verdade. O filósofo Bergson é coerente quando afirma: 'Para mim uma só coisa conta, uma só me atrai: a verdade. Nada mais desejo conhecer, senão a verdade'.Há sistemas filosóficos alheios ao real. Na história da filosofia surgem amiúde. Contudo, não devem ser simplesmente abominados tais sistemas, pois além de manifestarem um sincero esforço de seus formuladores para a procura da verdade, não raro elementos de verdade encontram-se perdidos nos seus conteúdos. Estas palavras de S. Tomás ilustram essa afirmação: 'É justo sermos gratos para os que nos auxiliaram na aquisição da verdade. E isto é verdade, não somente em relação aos que menos estimamos terem encontrado a verdade e cuja opinião seguimos, mas também para aqueles que a procuraram superficialmente e dos quais nos afastamos. A eles também somos devedores: propiciaram-nos ocasião de nos exercermos na procura da verdade'(...).
A filosofia é o mais elevado conhecimento humano. Transcende, como vimos, ao saber das ciências. Embora delas use para desenvolver o seu exercício, a filosofia as domina do alto, define para cada uma o seu objeto, impede que uma ultrapasse os próprio limites, coordena-as, especifica-lhes os princípios. Muito Elucidativo é este texto de Boschenski, no qual bem se configura a natureza do saber filosófico: 'A filosofia é a ciência dos fundamentos da realidade. Lá onde as outras ciências param, onde sem mais indagar aceitam os pressupostos, entra o filósofo e começa investigar. As ciências conhecem, mas o filósofo pergunta o que é o conhecimento; as outras ciências estabelecem leis - ele põe a questão do que seja uma lei; o homem comum e o político falam de fins e utilidade - o filósofo pergunta o que se deve entender por fim e por utilidade'".
Um comentário:
A morte de Bergman e a de Antonioni. A Morte. A procura da Verdade. Viver com os pés no chão. Não sei por escrito onde quero chegar. Valeu pelo texto.
Bite.
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