domingo, 14 de outubro de 2007

POESIA CONTEMPORÂNEA NO BRASIL - I



Este texto despretencioso foi escrito para servir de referência em uma mesa redonda sobre poesia contemporânea, cujo objetivo era despertar novos leitores para a poesia de hoje no Brasil, em um projeto chamado Circo de Cultura.




Por Vanderli Marques da Silva



O objetivo do presente texto é apontar para a possibilidade de leitura de poesia contemporânea, no Brasil, a despeito da oferta de um subproduto cultural feito pelos meios de comunicação de massa e, muitas vezes, vorazmente consumida pelo grande público.

Retomamos, com esse propósito, uma polêmica evidenciada nos anos recentes de 1998 por meio da revista Poesia Sempre, ligada à Biblioteca Nacional. Essa instituição propunha-se a elaborar uma lista com os vinte maiores poetas brasileiros vivos, seja lá o que eles quiseram dizer com “maiores”, excetuando João Cabral de Mello Neto, cuja figura, segundo a revista, pairava soberanamente acima de todas as demais. Para tal, foram elencados 119 cardeais, escolhidos entre poetas e estudiosos de Literatura, que, em um verdadeiro conclave, elegeriam os 20 papas vivos das nossas letras.
A votação e a lista, embora tenham chegado a termo, não vieram a ser divulgadas em edição especial da revista, porque, como era de prever, em um ambiente em que os egos borbulham, alimentados pelas chamas da vaidade de cada poeta, o que no meu ver é natural e muito saudável, em um país de grande vivacidade cultural, como o Brasil, o tempo fechou – confesso que ter acompanhado esse qüiproquó nas páginas de alguns jornais, disponibilizado no site Jornal de Poesia, dirigido pelo poeta cearense, Soares Feitosa, ele mesmo um dos 20 eleitos e, paradoxalmente, com a lista, ou com listas, me fez conhecer alguns nomes a que, certamente, seria mais difícil o meu acesso, dentre outras coisas, em função dos problemas de circulação dos livros de poesia, de tão restrito interesse em nosso país.
Pois bem, listas com o fito de canonizar escritores ou de torná-los “artistas oficiais” sempre houve. No entanto, aquele que sempre dá o parecer final a respeito de listas e de cânones é infenso a todo tipo de suborno, sedução ou bajulação, é o tempo. E é ele, e somente ele, quem faz as listas, senão definitivas, ao menos mais duradouras.
Mas o que nos interessa, na verdade, não são as listas pelas listas, mas o que elas podem suscitar de discussão, bem como alguns elementos que, em se tratando da lista em foco, estão dentro (ou fora) dela: os poetas e as suas poesias.
Então, foi por meio da lista da revista Poesia Sempre, que conheci novos poetas e busquei conhecer a obra de outros como Ivan Junqueira, se não me falha a memória, o segundo mais bem votado; de Gerardo Mello Mourão, o mais furiosamente lamentado ausente da lista; de Alberto Cunha Mello, outro ausente, grande poeta pernambucano, cuja circulação da obra deixa a desejar. Vale dizer também, ainda sobre a bendita lista, que Hilda Hilst não quis votar e pediu para não ser votada; que o poeta baiano, Ildásio Tavares, protestou, menos a ausência do seu nome, do que o fato de a edição da revista Poesia Sempre ser financiada com o dinheiro do contribuinte, categoria de que também faz parte; que o poeta Soares Feitosa, incluído e muito bem votado, afirmou que em sua lista pessoal – todos têm a sua lista também vou fazer a minha- seria GMM – inquestionável, desbancando João Cabral do Olimpo – e mais vinte; que o próprio GMM enviou uma carta à Biblioteca nacional, reiterando a sua indiferença diante de críticas e elogios à sua obra, mas lembrando dos apupos que recebera ao longo da sua vida de figuras de “calibre mínimo”, tais como Ezra Pound, Jorge Luis Borges e Carlos Drummond de Andrade, para ficar apenas nesses três; e se era para fazer marketing pessoal, poder-se-ia lembrar da sua indicação, em 1979, ao Nobel de literatura.
Dito isso, e limitando-nos apenas a isso, já que esta polêmica, não obstante aos quase dez anos do seu início, ainda reverbera nos que se interessam pela matéria, intentamos mostrar como a poesia brasileira continua viva, produtiva, instigante e, por que não dizê-lo, acessível a quem procura. E sabemos que é um número bastante significativo, dentro dos limites, é claro, do possível para um país como o Brasil, onde ler o que quer que seja ainda pode ser chamado de luxo.
Por fim, chamarei poetas – incluídos e excluídos, municipais, estaduais e federais – para falar por si próprios. Gerardo Mello Mourão e um poema do livro O País dos Mourões, em que consubstancia, com metáforas belíssimas, as lembranças de um seu antepassado, seu nascimento, vida, morte e eterna memória. Ivan Junqueira e um poema do livro Sagração dos Ossos, chamado “Onde estão?”, reflexão cheia de sensualidade sobre a vida e a morte. Finalmente, Bruno Tolentino e um poema do livro Os Deuses de Hoje, O Signo, poema sobre a procura de sentido para a vida, hermética e única, de cada um.
P. S. Os poemas acima referidos e a lista de votantes e votados serão postados nas próximas semanas.

2 comentários:

Elton Quadros disse...

A ausência de Alberto Cunha Mello, já seria absurda, mas, a de Gerardo Mello Mourão só não é mais absurda, pois, moramos no Brasil e esse país é adepto desses desvários, especialmente, a sua "classe" intelectual/artística.

Infelizmente, hoje, a lista dos poetas vivos brasileiros não conta mais com o Gerardo e o Bruno...

Espero os poemas...

Abraços deste malungo.

Anônimo disse...

Oi, Bite;

Muitíssima boa a sua decisão de publicar esse texto, reflexo daquela bela participação durante o Circo de Cultura.