(REMBRANDT - O filósofo em meditação )
Há algum tempo, venho observando a relação das pessoas com as tristezas, e quantas vezes ouvi expressões do tipo:
“Aí que música triste, como alguém escuta isso?”;
“Aí que poema triste, Deus me livre!”;
“Não agüento estes filmes tristes que você vê”
etc
Por outro lado, vejo o tempo todo na tevê, nos anúncios e nas frases feitas o chamamento ao alto astral! À auto-estima! À felicidade! Ao sucesso...
Fico pensando – que mundo é este em que as pessoas acreditam que as palavras e o auto-convencimento ( ou seria auto-engano?) podem gerar tal como num laboratório a felicidade, e o que me parece ainda mais inacreditável, este mundo de felicidade in vitro exclui incondicionamente a possibilidade de falar, pensar e considerar a tristeza humana.
Esta “ideologia do sucesso”, além de barulhenta, parece-me uma fuga do mundo real, quer seja na versão pauliniana ( o mundo é um vale de lágrimas), quer na nietzschiana (O deserto cresce. Aí daquele que contempla o deserto).
Cultivar as tristezas, certamente, não é o caminho, no entanto, escondê-las embaixo do tapete também não.
Do alto de minha insignificância, acredito que o melhor caminho seja o enfrentamento, ou como ensina Viktor Frankl no Otimismo Trágico:
“Ninguém conseguirá evitar o confronto com o sofrimento inarredável, a culpa insuperável e,finalmente, a morte inevitável. A questão que ora se propõe assim se enuncia: como se pode dizer sim a vida, apesar de todos esses aspectos trágicos da existência humana? Uma outra pergunta se relaciona com esta e a complementa: pode a vida, apesar de todos os seus aspectos negativos, ter um sentido – conservar o sentido sob quaisquer condições e em qualquercircunstância? A resposta dependerá de imediato da disposição de encararmos de frente a vida nosentido, por exemplo, de uma passagem da carta de Rilke endereçada à Duquesa Sizzo, nestes termos: ‘Quem não aceitar a tragidade da vida através de uma resolução definitiva, a ponto de aclama-la, jamais entrará na posse dos inefáveis poderes da nossa existência ao contrário, ficará à deriva e terá sido, no momento decisivo, nem vivo nem morto’”.
O fato de não meditar sobre as tristezas humanas e, principalmente, sobre as nossas de cada dia não evita a existência delas, e mais, escondê-las de nós mesmos pode nos levar a criação de monstros, de dragões terríveis e, às vezes, inteiramente falsos.
Digo isso, não para entristecer as pessoas ou porque eu esteja especialmente triste – digo isso, porque acredito que a vida só vale a pena ser vivida em toda a sua realidade, sem fundos (imaginários) azuis ou rosas ou sombrios ou ilusões ou mascaras fantasiosas...
O fato de a vida ser bela, e eu acredito nisso, não significa que ela seja boba, pueril ou “poliana”.
***
SOBRE OS AUTORES CITADOS:
Viktor Frankl é o criador da Logoterapia, ou seja, uma terapia que centra sua busca no sentido, uma vez que um dos maiores problemas do nosso tempo é a falta de sentido.
Frankl escreveu vários livros, o mais famoso (e a melhor introdução a sua psicologia) é a sua quase biografia, na qual relata a sua vivência num campo de concentração nazista durante a 2ª Guerra Mundial - Em Busca de Sentido (Editora Vozes). Um livro fácil de encontrar/encomendar e que não é caro.
Rainer Maria Rilke – É um grande poeta da língua alemã que viveu no final do século XIX e inícios do século XX e, além da poesia, dedicou-se ao “estudo” das artes plásticas e escreveu um livro muito conhecido – Cartas a um jovem poeta (Editora Globo). Um livro também fácil de encontrar/encomendar e que não é caro.
Há algum tempo, venho observando a relação das pessoas com as tristezas, e quantas vezes ouvi expressões do tipo:
“Aí que música triste, como alguém escuta isso?”;
“Aí que poema triste, Deus me livre!”;
“Não agüento estes filmes tristes que você vê”
etc
Por outro lado, vejo o tempo todo na tevê, nos anúncios e nas frases feitas o chamamento ao alto astral! À auto-estima! À felicidade! Ao sucesso...
Fico pensando – que mundo é este em que as pessoas acreditam que as palavras e o auto-convencimento ( ou seria auto-engano?) podem gerar tal como num laboratório a felicidade, e o que me parece ainda mais inacreditável, este mundo de felicidade in vitro exclui incondicionamente a possibilidade de falar, pensar e considerar a tristeza humana.
Esta “ideologia do sucesso”, além de barulhenta, parece-me uma fuga do mundo real, quer seja na versão pauliniana ( o mundo é um vale de lágrimas), quer na nietzschiana (O deserto cresce. Aí daquele que contempla o deserto).
Cultivar as tristezas, certamente, não é o caminho, no entanto, escondê-las embaixo do tapete também não.
Do alto de minha insignificância, acredito que o melhor caminho seja o enfrentamento, ou como ensina Viktor Frankl no Otimismo Trágico:
“Ninguém conseguirá evitar o confronto com o sofrimento inarredável, a culpa insuperável e,finalmente, a morte inevitável. A questão que ora se propõe assim se enuncia: como se pode dizer sim a vida, apesar de todos esses aspectos trágicos da existência humana? Uma outra pergunta se relaciona com esta e a complementa: pode a vida, apesar de todos os seus aspectos negativos, ter um sentido – conservar o sentido sob quaisquer condições e em qualquercircunstância? A resposta dependerá de imediato da disposição de encararmos de frente a vida nosentido, por exemplo, de uma passagem da carta de Rilke endereçada à Duquesa Sizzo, nestes termos: ‘Quem não aceitar a tragidade da vida através de uma resolução definitiva, a ponto de aclama-la, jamais entrará na posse dos inefáveis poderes da nossa existência ao contrário, ficará à deriva e terá sido, no momento decisivo, nem vivo nem morto’”.
O fato de não meditar sobre as tristezas humanas e, principalmente, sobre as nossas de cada dia não evita a existência delas, e mais, escondê-las de nós mesmos pode nos levar a criação de monstros, de dragões terríveis e, às vezes, inteiramente falsos.
Digo isso, não para entristecer as pessoas ou porque eu esteja especialmente triste – digo isso, porque acredito que a vida só vale a pena ser vivida em toda a sua realidade, sem fundos (imaginários) azuis ou rosas ou sombrios ou ilusões ou mascaras fantasiosas...
O fato de a vida ser bela, e eu acredito nisso, não significa que ela seja boba, pueril ou “poliana”.
***
SOBRE OS AUTORES CITADOS:
Viktor Frankl é o criador da Logoterapia, ou seja, uma terapia que centra sua busca no sentido, uma vez que um dos maiores problemas do nosso tempo é a falta de sentido.
Frankl escreveu vários livros, o mais famoso (e a melhor introdução a sua psicologia) é a sua quase biografia, na qual relata a sua vivência num campo de concentração nazista durante a 2ª Guerra Mundial - Em Busca de Sentido (Editora Vozes). Um livro fácil de encontrar/encomendar e que não é caro.
Rainer Maria Rilke – É um grande poeta da língua alemã que viveu no final do século XIX e inícios do século XX e, além da poesia, dedicou-se ao “estudo” das artes plásticas e escreveu um livro muito conhecido – Cartas a um jovem poeta (Editora Globo). Um livro também fácil de encontrar/encomendar e que não é caro.
5 comentários:
Elton, parabéns por esse primeiro texto. viver, realmente,não é fácil, mas já que estamos aqui, devemos honrar a dádiva, sem ilusões, muito menos com pessimismo.
Não sei se bem me lembro, mas creio que foi o Freud, no seu Mal-Estar da Civilização, que disse que passamos demasiado tempo evitando isto e aquilo. Ora, é preciso deixar de fugas. Quando nada, devemos viver; a vida é esta aqui e não outra.
Caros Bite e Becker,
O problema é que vejo hoje muita ilusão e fugas na vida das pessoas. Quer sejam as ilusões do sucesso a qualquer custo (inclusive da vida) e das fugas barulhentas (funks, carnavais, academias...).
abraços deste malungo
Penso que esse é um blog para filósofos mas voce sabe, a psicologia ama a filosofia....
Prezado Elton, como uma pessoa que abandonou a área de marketing e virou psicóloga só posso aplaudir suas palavras. Não faz bem, cultivar a tristeza e alimentar pensamentos que causam mal-estar, em contrapartida... dizer a si mesmo frases criadas pela indústria da auto-ajuda só produz sujeitos superficiais, forjados e fugazes. Que saibamos viver de modo a sentir a dor e a alegria, sentir a vida em toda a sua intensidade, como algo que pulsa, que nos convida a chorar, sentir, sorrir, pensar, chegar, partir e é claro... amar.
Ivy,
Gostei muito do que você disse.
E, não fique preocupada, neste blog escrevem: "filósofos", historiadores, formados em letras e quem mais chegar!
Abraços deste malungo.
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