quarta-feira, 8 de agosto de 2007

(Catedral de Ulm)


Palavras de Ingmar Bergman no início do roteiro do filme O Sétimo Selo:




“Pondo de lado as minhas crenças e as minhas dúvidas, que não tem importância neste caso, é minha opinião que a arte perdeu seu impulso criador básico no momento em que se separou do culto. Ela cortou um cordão umbilical e leva agora uma vida estéril, gerando-se e degenerando-se. No passado o artista permanecia ignorado e sua obra existia para glória de Deus. Ele vivia e morria sem ser mais importante do que outros artesãos; ‘valores eternos’, ‘imortalidade’ e ‘obra-prima’ eram expressões não aplicáveis no seu caso. A capacidade de criar era um dom. Num mundo assim floresciam a convicção inabalável e a humildade natural.Hoje o indivíduo se tornou a mais alta forma de criação artística, o que é também a maior desgraça. A menor ferida ou aflição do ego é examinada sob um microscópio como se tivesse importância eterna. O artista considera seu isolamento, sua subjetividade, seu individualismo quase sagrados. Assim finalmente nos juntamos num enorme cerrado e nos pomos a balir a nossa solidão sem nos ouvirmos e sem percebermos que nos consumimos em fogo lento. Os individualistas fitam-se nos olhos e no entanto cada um nega a existência do outro. Andamos em círculos, tão limitados por nossas ansiedades que já não conseguimos distinguir o verdadeiro do falso.


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Assim, se me perguntassem o que eu gostaria que fosse o objetivo de meus filmes, eu responderia que quero ser um dos artistas da catedral na grande planície. Quero fazer uma cabeça de dragão, um anjo, um demônio – ou talvez um santo – de pedra. Não importa qual; o sentimento de satisfação é que conta. Independentemente de crer ou não, de ser cristão ou não, eu faria a minha parte na construção coletiva da catedral”.

3 comentários:

Anônimo disse...

O que dizer de um texto desses? Qual comentário seria o mais pertinente? Melhor seria a mesma atitude de Agostinho, ao descrever a sua entrada numa catedral, silêncio, contemplação...

Anônimo disse...

Eu faço das palavras de Elton Becker as minhas.

Anônimo disse...

Ele é pura poesia, pura filosofia. A sua cara mesmo. E esse é meu filme predileto dele, já te disse. Adorei ver isso por aqui.
Tenha um ótimo fim de semana, abraço.