Sim, no Brasil, a educação, precária, é a filha da outra, na casa da madrasta, enxovalhada e à espera de uma fada que lhe dê um vestido de princesa e uma carruagem que a leve dignamente ao baile. Mas o que tem acontecido no nosso conto de fadas é que a carruagem já é aboborificada muito antes da meia noite. Em palavras menos cifradas, a educação, exceto em discursos sazonais, não tem importância alguma. E a autoria do discurso demagógico, aqui, não é das autoridades e competentes apenas, mas também dessa vítima eterna dos males do mundo que é o cidadão comum.
Reiterar, aqui neste texto, que a camarilha que comanda o país está se lixando para a formação moral, intelectual ou mesmo técnico-profissional de qualquer cidadão faz-se desnecessário. Até mesmo porque isto não traria nenhum benefício àqueles que só legislam em causa própria e nunca dão ponto sem nó. Pois bem, aquela Finlândia a que nos referimos acima – e não por coincidência – aparece também no topo das estatísticas sobre educação. E é com esse dado que encerramos o nosso primeiro propósito: dizer que menos bandalheira, menos cinismo, menos demagogia, menos incompetência é igual a mais e melhor educação e a mais e melhores oportunidades.
O nosso segundo propósito é dizer que os adjetivos pouco amigáveis com que tratamos a corja do nosso Estado são aplicáveis, mutatis mutandis, a nós, cidadãos. A nossa apatia é a mãe negligente dos irresponsáveis, cínicos, demagogos e incompetentes que nos governam.O discurso da educação como tábua de salvação do país não é, pois, hipocrisia somente do pessoal de Brasília, mas do pai, da mãe, do jovem, do próprio professor, enfim do brasileiro médio, que repete, repete, repete idéias que não pratica, até exauri-las, transformando-as em um mantra estéril, e o pior, acreditando que é possível fazer omelete sem quebrar os ovos.
Do que tratam exatamente as abstrações e figuras do parágrafo acima? De que votamos mal, nos informamos muito pouco e mitificamos as informações que recebemos; de que as famílias de classe média priorizam os veraneios, as roupas, as festas, para ficarmos apenas no âmbito material, em detrimento das exigências pecuniárias da boa formação de um filho; de que escola privada virou no Brasil uma concessionária de jovens, sim, c-o-n-c-e-s-s-i-o-n-á- r-i-a, onde se põe um veículo com problema e se espera que ele saia tinindo, à revelia da responsabilidade do motorista que, coitado!, já arcou com os altos custos do conserto; de que escola pública tornou-se um monumento ao atraso e à desesperança: cara, ineficiente e palco de reivindicações inconseqüentes, desgastadas, obsoletas e muito escassa em resultados.
Mas, sem perder a esperança nas instituições nem nos homens, ainda espero vivenciar dias melhores, se não como fato concreto, ao menos como projeto, para a Educação no Brasil.
P.S.: Encerro, sem mais delongas, esse texto, porque voltarei a falar, sob outras perspectivas, acerca do mesmo assunto.
Vanderli Marques.