Na correria do trabalho e dos afazeres cotidianos só consegui saber, agora há pouco, que um dos maiores poetas da história da língua portuguesa faleceu hoje, na manhã de hoje.
Bruno Tolentino, que Deus lhe guarde!
Um poema, do próprio Tolentino, sobre perdas:
Um poema, do próprio Tolentino, sobre perdas:
ARTIMANHAS DE ISABEL BISPO
Uma arte toda sua
'
a arte de perder vem com facilidade
em tantas coisas há uma tal propensidade
um tal amor à perda, que dá mesmo vontade
'
de perdê-las. De início, perde um item por dia:
molho de chaves, papelada, a hora vadia
esperdiçada - perde e aprende a mais-valia
'
da arte desastrada de perder... Mais à frente
perde com mais audácia, sê bem mais diligente:
perde nomes, lugares, a viagem iminente
'
que ficou por fazer, entre um talvez e um quando.
Perdi o relógio de mamãe e um dia, olhando
minha última casa ir se juntar ao bando
'
das que se haviam ido, fiquei bem deprimida,
sofri, mas não morri. Afinal, é a vida.
a arte de perder, desastrosa e fingida,
'
despede-se mas volta: perdi duas cidades
(belíssimas!), um rio e, trêmula de saudades,
perdi um continente inteiro! Mas quem há de
'
esquivar-se a um mistério, se a arte de perder,
desastre ou não desastre, é algo inerente ao ser?
Perder-te, por exemplo, pouco a pouco esquecer,
'
ou já nem ver direito um gesto teu, um modo
todo teu de dizer... Aceito-o; não de todo,
é claro, algo se insurge, escapa, cai no lodo
'
de enxurrada da vida, mas que se há de fazer?
Eu recomendo dar de ombros, pois perder
dói sim, mas (toma nota!) ensina-te a escrever..."
4 comentários:
Muita tristeza. Há menos de uma semana comentava com muito orgulho tê-lo conhecido pessoalmente. Falava também sobre a doença cruel e principalmente sobre a poesia genial e a simplicidade do homem. Muita tristeza.
Tenho verdadeira paixão aos poetas portugueses.. sempre é uma perda mto grande, mas ainda bem que suas obras são eternas...
Andrea.
retificando..
poetas de língua portuguesa...
Este primeiro semestre foi cheio de tristezas.
A morte de Gerardo Melo Mourão, Marinês e agora Tolentino entristece o Brasil e o meu coração.
Não entendo direito este sentimento que percebo em mim de me alegrar sempre com a vida e de ficar feliz por viver no "mesmo tempo" que grandes poetas como Mourão e Tolentino e de uma grande cantora como Marinês.
Só nos resta mesmo o consolo das obras que ficam...
Abraços
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