sábado, 30 de junho de 2007

Brasilândia




Finlândia, Islândia e Nova Zelândia são três dos países com menor índice de corrupção do mundo, segundo dados da Transparência Internacional. Rebatizar o Brasil como Brasilândia seria uma rima, não uma solução. Solução mesmo seria os brasilandeses, digo, brasileiros, reverem os seus critérios de escolha e, sobretudo, de acompanhamento (depois da escolha já feita) da vida pública dos nossos políticos. Mas o nosso foco aqui não é corrupção, é educação, filha bastarda e renegada do Estado brasileiro.
Sim, no Brasil, a educação, precária, é a filha da outra, na casa da madrasta, enxovalhada e à espera de uma fada que lhe dê um vestido de princesa e uma carruagem que a leve dignamente ao baile. Mas o que tem acontecido no nosso conto de fadas é que a carruagem já é aboborificada muito antes da meia noite. Em palavras menos cifradas, a educação, exceto em discursos sazonais, não tem importância alguma. E a autoria do discurso demagógico, aqui, não é das autoridades e competentes apenas, mas também dessa vítima eterna dos males do mundo que é o cidadão comum.
Reiterar, aqui neste texto, que a camarilha que comanda o país está se lixando para a formação moral, intelectual ou mesmo técnico-profissional de qualquer cidadão faz-se desnecessário. Até mesmo porque isto não traria nenhum benefício àqueles que só legislam em causa própria e nunca dão ponto sem nó. Pois bem, aquela Finlândia a que nos referimos acima – e não por coincidência – aparece também no topo das estatísticas sobre educação. E é com esse dado que encerramos o nosso primeiro propósito: dizer que menos bandalheira, menos cinismo, menos demagogia, menos incompetência é igual a mais e melhor educação e a mais e melhores oportunidades.
O nosso segundo propósito é dizer que os adjetivos pouco amigáveis com que tratamos a corja do nosso Estado são aplicáveis, mutatis mutandis, a nós, cidadãos. A nossa apatia é a mãe negligente dos irresponsáveis, cínicos, demagogos e incompetentes que nos governam.O discurso da educação como tábua de salvação do país não é, pois, hipocrisia somente do pessoal de Brasília, mas do pai, da mãe, do jovem, do próprio professor, enfim do brasileiro médio, que repete, repete, repete idéias que não pratica, até exauri-las, transformando-as em um mantra estéril, e o pior, acreditando que é possível fazer omelete sem quebrar os ovos.
Do que tratam exatamente as abstrações e figuras do parágrafo acima? De que votamos mal, nos informamos muito pouco e mitificamos as informações que recebemos; de que as famílias de classe média priorizam os veraneios, as roupas, as festas, para ficarmos apenas no âmbito material, em detrimento das exigências pecuniárias da boa formação de um filho; de que escola privada virou no Brasil uma concessionária de jovens, sim, c-o-n-c-e-s-s-i-o-n-á- r-i-a, onde se põe um veículo com problema e se espera que ele saia tinindo, à revelia da responsabilidade do motorista que, coitado!, já arcou com os altos custos do conserto; de que escola pública tornou-se um monumento ao atraso e à desesperança: cara, ineficiente e palco de reivindicações inconseqüentes, desgastadas, obsoletas e muito escassa em resultados.
Mas, sem perder a esperança nas instituições nem nos homens, ainda espero vivenciar dias melhores, se não como fato concreto, ao menos como projeto, para a Educação no Brasil.

P.S.: Encerro, sem mais delongas, esse texto, porque voltarei a falar, sob outras perspectivas, acerca do mesmo assunto.


Vanderli Marques.

7 comentários:

Anônimo disse...

No Brasil um problema acaba interligando o outro e o resultado final é o que estamos vivenciando.
A falta de uma educação de qualidade acaba acarretando problemas como a violência, corrupção e etc...
Porém, como donos de um passado tão grandioso e tão batalhador, ainda há dentro de cada um de nós uma esperança em dias melhores e em políticos que tenham interesse em melhorar a situação atual do nosso país ao invés de se preocupar em ficar cada vez mais rico.
Se bem, que, nos dias atuais, é utopia pensar que existam políticos assim. A saída então, é saber cobrar nossos direitos, pois nos rendemos ao comodismo e consequentemente acabamos deixando com que os políticos façam o que quiser.
Como Nando Reis fala “O mundo está ao contrário e ninguém reparou”.
Então, se o mundo está ao contrário e ninguém reparou, dos cegos do castelo me despeço e vou.

Beijos

Elton Quadros disse...

Bite,

Ainda não tive tempo de comentar o seu texto e não terei muito a dizer agora (volto depois).

Só quero registrar inicialmente que o texto colaca questões importantes sobre educação e, principalmente, sobre o que quer (se quer) o "educando".

Espero que você desenvolva isso nos próximos textos.

A minha pergunta básica é: o que quer quem hoje se coloca/está na condição de "aluno". Quer a verdade? Quer ser famoso? Quer ficar rico? Não quer nada? etc?

Como professor de filosofia, fico, quase sempre e, especialmente, em finais de períodos, me questionando sobre a minha predisposição pessoal (o desejo/amor de conhecer) e o "enigma" do que querem os meus alunos.

Se ficou um pouco confuso, desculpe, é a pressa com o cansaço!

Abraços e parabéns pelo texto e expectativa pelo que virá!

Anônimo disse...

Marianne, muito obrigado mais uma vez pelos seus comentários, já estava na expectativa de saber qual a sua opinião sobre o texto.


Elton, eu já havia sentido, mas nunca formulado os seus questionamentos. Sem dúvida eles são de muita valia para quem quer pensar a educação, a juventude, o futuro e a si mesmo como educador ou cidadão.

Anônimo disse...

Bite, acesse www.diariodooprimido.com.br

beijos

Caique disse...

Bit!!! Posso publicar este texto no Núcleo Universitário? (www.nucleouniversitario.com.br). Abração!

Anônimo disse...

Fabinho, entrarei ainda hoje.

Caíque, é claro que pode.
Bite.

Anônimo disse...

Meu Caro Bite,

Em primeiro lugar, vale dizer da qualidade e da clareza invejáveis. Segundo, é bem pertinente todas as questões que você pontua, em especial neste momento de greve na Bahia.

Terceiro - e vou limitar-me a isso -, embora eu saiba que a esperança move o sol e as estrelas, não sei ainda o que pensar sobre este momento da educação no país. De todo modo, a sua reflexão incita para vôos mais altos, vejamos adiante.