sexta-feira, 23 de novembro de 2007

UMA BREVE "HISTÓRIA" DA ÓPERA - Parte IV




INOVADORES III


VERDI (1813-1901) certamente é o mais popular compositor de óperas que já existiu, sua obra é das mais representadas no mundo até hoje.

O repertório verdiano é extenso Nabucco, Rigoletto, A Força do Destino, Aída, Otello etc.

Neste texto, tratarei, também brevemente, sobre La Traviatta (libreto de Francesco Maria Piave), motivado por estas palavras de Carpeaux: “Pois Verdi subordina a arte à expressão dramática, que virou brutal porque o compositor é fundamentalmente realista. (...) Verdi simpatiza sobretudo com as vítimas, os humilhados e os ofendidos...” (CARPEAUX: 2001, 341).

Talvez por conta deste realismo, La Traviatta, a primeira das óperas realmente realistas de Verdi, não obteve uma boa recepção inicial por parte do publico.
Violetta heroína de La Traviatta (A Extraviada) é uma cortesã sustentada por um barão. Alfredo um jovem apaixona-se por Violetta e, depois de um encontro desastroso numa festa, acabo por encontrar coragem para declarar-se efetivamente após o isolamento da extraviada devido a uma crise de tuberculose.

Passam alguns meses juntos em uma casa no campo, devido a uma viagem de Alfredo, o pai deste aparece e solicita de Violetta a renuncia ao amor de seu filho. Afinal de contas, ela é uma cortesã e com isso Alfredo não poderá ter espaço na “sociedade parisiense da época”.Ela aceita o sacrifício e, ao voltar da viagem, Alfredo encontra uma Violleta chorosa que o abandona deixando somente uma carta para o abobado Alfredo que, do meio da sua incompreensão, desconfia que o afastamento de sua amada foi devido a uma traição.

Ao encontrar Violetta novamente em Paris, aparentemente refeita de sua enfermidade, atira-lhe na cara uma quantia de dinheiro como pagamento pelo tempo que passaram no campo. É uma momento intensamente triste de “presenciar”.

No último ato, encontramos Violetta doente e em estágio terminal, abandonada por todos, ela reencontrar Alfredo que descobri a verdade sobre a separação (revelada pelo próprio pai) e, neste momento de encontro e alegria, Violetta morre nos braços de seu amor.

Com La Traviatta, Verdi coloca o realismo em foco. Ao apresentar uma prostituta tísica condenada a indiferença social como heroína, Verdi traz a ópera para o mundo cotidiano, para o dia a dia dos problemas humanos. O contraste entre os salões burgueses da Paris do século XIX e do quarto onde vive a prostituta abandonada, arrependida de sua vida de pecados e à beira da morte são acompanhados por uma música que busca revelar o artificialismo dos primeiros e a espera sussurrante da morte no segundo.

Talvez, La Traviatta não seja a melhor ópera de Verdi, no entanto, com ela temos, pela primeira vez, elementos importantes, tais como: realismo (a vida como ela é), uso do cotidiano (não mais lendas e mitos), pessoas comuns (e suas misérias), o desprezo social (destituído de sentido verdadeiro tão comum à época) e, ao fim e ao cabo, uma “reflexão” sobre o valor da pessoa.

Essa ópera é comovente!

"LA TRAVIATA", PRELUDE TO ACT I (Georg Solti)

Angela Gheorghiu - Sempre Libera - La Traviata - Verdi

Roberto Alagna - Aldredo scene (La Traviata) - 1992

Ermonela Jaho - La Traviata Finale - Live

Bravo!

quarta-feira, 21 de novembro de 2007

O de sempre...






O texto sobre Verdi que eu deveria postar ontem, ficará para outro dia.

É o de sempre... final de período, muita coisa para fazer e pouca paciência!

segunda-feira, 5 de novembro de 2007

UMA BREVE "HISTÓRIA" DA ÓPERA - Parte III





“Todo querer se origina da necessidade, portanto, da carência, do sofrimento”.
(Schopenhauer)


INOVADORES II



WAGNER (1813-1883) acompanha a mentalidade alemã do século XIX que busca uma glorificação de um passado germânico mítico. Deuses, heróis e lendas medievais povoam a obra deste nacionalista que busca uma música infinita.

O Navio Fantasma, Tannhäuser, Os Mestres Cantores de Nurenberg (a minha preferida), a tetratologia O Anel do Nibelungo (O Ouro do Reno, A Valquíria, Siegfried e O Crepúsculo dos Deuses), entre outras, são algumas de suas maiores criações.

Wagner está naquela “categoria” (ao lado de Mahler e Prokofiev) de compositores amados ou odiados! No entanto, a história da ópera, pode ser dividida entre antes e depois dele.



Da significativa obra de Wagner, nos deteremos somente em Tristão e Isolda (com libreto do próprio compositor), uma lenda céltica sobre um jovem casal que vive uma paixão proibida.

Tristão é encarregado por seu tio, o rei Marcos, a conduzir Isolda da Cornualha até a Bretanha para que possam casar-se. No caminho, Tristão e Isolda que já estavam enamorados tomam uma porção mágica do amor que potencializa, ainda mais, o sentimento dos dois.

No entanto, Isolda está prometida ao rei Marcos e tem que realizar este casamento. À noite, após a “indesejada” festa de núpcias, Tristão encontra Isolda e não resistem à paixão e são flagrados abraçados. Marcos não aceita a traição de seu sobrinho, mas, mesmo assim, impede que seu criado Melot mate Tristão.

Tristão ferido consegue fugir para seu palácio e a ausência de seu amor, leva-o ao desespero e ao desejo de morte. Neste momento, Isolda chega de navio e Tristão morre em seus braços.

Aparece o rei Marcos que descobriu a história da porção do amor e deseja perdoar os amantes. Isolda, desesperada, canta o seu cantar final:

“No esplendor de uma luz imortal, extasiada me perco e me regozijo!”

Essa ópera apresenta uma tradicional lenda medieval cheia de espiritualidade, enganos, honra, magia, filosofia schopenhauneana, amor místico e a música mais vertiginosa já escrita até então.

domingo, 4 de novembro de 2007

Richard Wagner Tristan und Isolde Solti.

Abertura!

Richard Wagner Tristan und Isolde.

Jessy Norman brilhante!

sábado, 27 de outubro de 2007

Concerto Confissões ou Meditação Para o Fim de Semana

Depois do post anterior, Strella do Dia, segue mais um vídeo do Concerto Confissões, proposto por Mim, Petrônio Joabe e Lana Sheila. O Concerto reúne excertos do livro Confissões de Agostinho. Neste vídeo, é possível ouvir um excerto do livro mais um belíssimo prelúdio de Bach executado a dois violões.
Oxalá, seja um belo "prelúdio", mesmo, para o fim de semana para todos. Boa audição.

quarta-feira, 24 de outubro de 2007

Santa Maria Strella do Dia


Da série de cantigas atribuídas a Afonso X, El Sábio. Esta é a cantiga de número 100, em que o poeta pede a Virgem para mostrar-lhe o caminho a Deus e que Ela seja a sua guia. Aqui, uma releitura com viola de 10, violoncelo, voz e pandeirola. Abaixo, seguem os versos.

Cantiga 100

[Esta é de loor.]

Santa Maria, strela do dia,
mostra-nos via pera Deus e nos guia.

Ca veer faze-los errados
que perder foran per pecados
entender de que mui culpados
son; mais per ti son perdõados
da ousadia que lles fazia
fazer folia mais que non deveria.

Santa Maria, strela do dia,
mostra-nos via pera Deus e nos guia.

Amostrar-nos deves carreira
por gãar en toda maneira
a sen par luz e verdadeira
que tu dar-nos podes senlleira;
ca Deus a ti a outorgaria
e a querria por ti dar e daria.

Santa Maria, strela do dia,
mostra-nos via pera Deus e nos guia.

Guiar ben nos pod' o teu siso
mais ca ren pera Parayso
u Deus ten senpre goy' e riso
pora quen en el creer quiso;
e prazer-m-ia se te prazia
que foss' a mia alm' en tal compannia.

Santa Maria, strela do dia,
mostra-nos via pera Deus e nos guia.

terça-feira, 23 de outubro de 2007

“Filósofo é tudo doido!”


Não tenho dado um bom testemunho por onde tenho andado. Prova disso é esta frase que ouvi no último sábado. Muito frequentemente, vou ao Sebo o Livreiro, do amigo Rai, ali no Beco. Com o tempo, acabei por fazer amizade com algumas garotas (Lilian e Wanna). E, nessa de ficar vasculhando, também falo, claro. E como não tenho nenhum compromisso com a coerência – e também pra descontrair o ambiente – acabo falando uma série de coisas destituídas de qualquer nexo. Uma blasfêmia aqui, uma heresia mais adiante, uma infâmia acolá. As meninas vão ouvindo. Volta e meia, perguntando: “Como é, Pai?”. Fustigado, me empolgo e ai é que eu começo a falar com muito maior eloqüência. Cito pensamentos profundos que ninguém nesse mundo leu em outra parte, faço suposições sobre a existência, teatralizo o armagedon. Pois bem. Numa dessas manhãs em que prefiro silenciar e tão somente folhear um ou outro livro (sim, muito ácaro), eis que ouço de Wanna – que não se dirigia a ninguém, apenas pensava em voz alta –: “Rapaz, filósofo é tudo doido!”. Virei-me para atentar para ela – já que, a rigor, era por minha causa que a frase fora proferida. Ao que ela disse: “É isso mesmo, Sena. Eu tava pensando naquele papo seu sobre esse tal de Dionísio. Sei não, viu?!.” Não sei exatamente o que foi que disso sobre Dionísio mas, pelo fruto, se deduz a árvore. Preferi não retrucar a Wanna. Tudo que eu dissesse seria usado contra mim. Calei e voltei aos ácaros. E comecei a dizer para mim mesmo que a humanidade é que era louca e que eu é que estava certo. Comecei a pensar sobre todos os grandes nomes que eram tidos como loucos e, no fundo, eram gênios. Comecei a pensar que, no fundo, onde ela via loucura, era lirismo; onde ela via loucura, era poesia; onde ela via loucura, eram malabarismos mentais de um pretenso halterofilista cerebral; onde ela via loucura, era uma nova proposta existencial; onde ela via loucura, era alguém que não queria ter “aquela velha opinião formada sobre tudo”. Depois parei de pensar e levantei-me do banquinho que me fora oferecido. Eu estava babando. Fiquei circulando por ali, gesticulando e falando, falando baixinho e olhando para o chão. Bati um livro de História Geral na cabeça, levemente. Babei mais um tanto. Saí porta afora, deixando um quê de perplexidade no semblante das meninas. Depois, ao invés de pegar o carro, saí voando até minha casa. Depois, teletransportei-me até a casa de meu amigo Dernival, no Vila América. Almocei. Voltei. Peguei o carro. Sintonizei numa rádio qualquer. Voltei no tempo. Escondido, fiquei ouvindo Elton Quadros. Ofereci-lhe um prestobarba. Ele me chamou de surfista prateado, eu o chamei de sofista. Ele ficou muito zangado.

Fábio Sena

UMA BREVA "HISTÓRIA" DA ÓPERA - parte II




OS INOVADORES I

Muitos são os compositores que irão contribuir para do desenvolvimento da ópera e sua linguagem, estrutura e musicalidade.

Destacaremos aqui, nesta nossa breve “história” da ópera, três deles: Mozart, Wagner e Verdi.

Nesta semana, enfocaremos o compositor da “ópera das óperas”:

MOZART (1756-1791) compôs sua primeira ópera aos 12 anos de idade. Das suas mãos surgiram obras brilhantes do repertório operístico: As Bodas de Fígaro, Cosi Fan Tutte e A Flauta Mágica.

No entanto, discutiremos aqui aquela que é considerada por muitos como a mais perfeita ópera de todos os tempos – Don Giovanni (Com libreto de Lorenzo da Ponte)!

Podemos afirmar que Don Giovanni é um resumo do gênio criador de Mozart. Nela é contada a história de um conquistador (o famoso Don Juan) que, desafiado a um duelo pelo Comendador, mata seu adversário. Com esta morte, Don Giovanni será perseguido por Otávio que pretende vingar a morte do pai de sua noiva Anna.

Na fuga, Don Giovanni, chega à aldeia de Zerlina que se prepara para casar com Masetto e corteja a jovem que só não cai nas “garras” do conquistador porque é avisada por Elvira, ex-mulher e vítima de Don Giovanni, sobre a índole de seu algoz.

Após uma série de acontecimentos burlescos (troca de papéis, seduções, serenatas, brigas) Don Giovanni chega ao cemitério gargalhando das aventuras recentes e depara-se com o fantasma do Comendador que o conclama ao arrependimento de seus atos e, ao recusar, Don Giovanni morre entre chamas.

Com a morte de Don Giovanni, as personagens restantes Elvira, Zerlina, Anna, Masetto, Leporello e Ottavio cantam em coro uma “moral da história”:


“Fique então aquele patife
Com Perséfone e Plutão
A nós todos
Oh, boa gente
Repitamos alegremente
A antiqüíssima canção
Este é o fim
De quem faz mal (...)
A morte dos pérfidos
É sempre igual à vida”.



A ópera Don Giovanni de Mozart envolve tragédia, comédia, amor, sensualidade, infidelidade, morte, paixão, lei, glutonaria e a relação indivíduo-sociedade interligados, do começo ao fim, com a música.

A orquestra “participa” do inconsciente das personagens, os cantos estão entre os mais belos, a fusão entre a música e este drama gracioso beira a perfeição.

Abaixo alguns exemplos:

Sextet from Mozart's Don Giovanni

Outro momento belíssimo!

Don Giovanni: A cena do Comendador

A belíssima cena do aparecimento do comendador para Don Giovanni.

terça-feira, 16 de outubro de 2007

"OSSO DURO DE ROER..."




Acabo de chegar do cinema... Assisti ao filme fenômeno - TROPA DE ELITE!

Confesso que quando fui ver o filme, estava meio desanimado. Assisti a alguns trechos de entrevistas do diretor José Padilha e não gostei muito do que ouvi.

Antes de ver o filme, acreditei que havia um entusiasmo exagerado de alguns autores que costumo ler e seus comentários sobre o filme:





A sessão estava vazia, ainda bem...

Ao ver o filme, percebi que as escolhas de utilização da câmera, dos cortes e da construção do roteiro eram competentes.

Mas, fiquei surpreendido com o fato do filme realmente tratar das questões sobre o tráfico, polícia, corrupção, honestidade e da liberdade (enquanto aceitação das responsabilidades) sem firulas ou justificações idiotas.

Não pude ficar imune ao seminário sobre Foucault e nas suas tantas deturpações sobre à realidade.

Não pude ficar imune a constatação de que quem financia o tráfico é quem compra/consome às drogas.

Não pude ficar imune ao treinamento em que os soldados são chamados à hombridade.

Todas essas coisas são uma descrição da realidade, em alguns casos, observados pelos meus olhos de classe média e “acadêmico”.
Antes de ver o filme, participei de uma destas brincadeiras da internet em que respondendo a um questionário, você ficava sabendo qual personagem você se parece. Como não havia visto o filme, achei interessante responder e ver o resultado.

Vendo o filme entendi... O sujeito identificado com a minha “personalidade” era o que: pensa antes de agir, é estudioso; as vezes, contemporiza, ficou com a mulher mais bonita do filme, é preto e usa óculos!

Nunca imaginei que um teste de internet pudesse “dissecar” tanto uma personalidade! Até porque, quando ele sabe o que tem que fazer, ele faz!

Devo voltar a esse filme e fazer um comentário menos “impressionista”. No entanto, quero fazer um último comentário hoje.

Tolstoi escreveu o, para mim, melhor romance já escrito na história da literatura: GUERRA E PAZ. Além de outras preciosidades.

Mas, lendo o livro, também precioso, de Paul Johnson - OS INTELECTUAIS percebi que as idéias, opiniões e mesmo a vida desse romancista russo, eram de uma mediocridade tão absurda, que fica difícil acreditar que era a mesma pessoa. Daí, parecer-me que o mesmo se dá, guardadas as devidas proporções, com o José Padilha. A obra supera o entrevistado!



- O texto que publicaria hoje com a segunda parte da “história” da Ópera fica para a próxima semana.

- Este texto, como todos os publicados aqui, neste blog, é a exposição de minhas opiniões e não refletem as opiniões dos outros colaboradores.

- Depois reviso o texto...




segunda-feira, 15 de outubro de 2007

ALBERTO DA CUNHA MELLO



Fiquei chocado ao receber a notícia da morte do poeta Alberto da Cunha Mello, hoje, com dois dias de atraso.


A morte desse grande poeta brasileiro já seria, em si, uma triste notícia. Mas, no domingo, Vanderli Marques escreveu um texto, neste blog, sobre a poesia contemporânea no Brasil e cita esse pernambucano.


Quem quiser conhecer mais sobre o Alberto da Cunha Mello, click neste link: http://www.albertocmelo.com/


Alberto da Cunha Mello, que Deus lhe guarde!

domingo, 14 de outubro de 2007

POESIA CONTEMPORÂNEA NO BRASIL - I



Este texto despretencioso foi escrito para servir de referência em uma mesa redonda sobre poesia contemporânea, cujo objetivo era despertar novos leitores para a poesia de hoje no Brasil, em um projeto chamado Circo de Cultura.




Por Vanderli Marques da Silva



O objetivo do presente texto é apontar para a possibilidade de leitura de poesia contemporânea, no Brasil, a despeito da oferta de um subproduto cultural feito pelos meios de comunicação de massa e, muitas vezes, vorazmente consumida pelo grande público.

Retomamos, com esse propósito, uma polêmica evidenciada nos anos recentes de 1998 por meio da revista Poesia Sempre, ligada à Biblioteca Nacional. Essa instituição propunha-se a elaborar uma lista com os vinte maiores poetas brasileiros vivos, seja lá o que eles quiseram dizer com “maiores”, excetuando João Cabral de Mello Neto, cuja figura, segundo a revista, pairava soberanamente acima de todas as demais. Para tal, foram elencados 119 cardeais, escolhidos entre poetas e estudiosos de Literatura, que, em um verdadeiro conclave, elegeriam os 20 papas vivos das nossas letras.
A votação e a lista, embora tenham chegado a termo, não vieram a ser divulgadas em edição especial da revista, porque, como era de prever, em um ambiente em que os egos borbulham, alimentados pelas chamas da vaidade de cada poeta, o que no meu ver é natural e muito saudável, em um país de grande vivacidade cultural, como o Brasil, o tempo fechou – confesso que ter acompanhado esse qüiproquó nas páginas de alguns jornais, disponibilizado no site Jornal de Poesia, dirigido pelo poeta cearense, Soares Feitosa, ele mesmo um dos 20 eleitos e, paradoxalmente, com a lista, ou com listas, me fez conhecer alguns nomes a que, certamente, seria mais difícil o meu acesso, dentre outras coisas, em função dos problemas de circulação dos livros de poesia, de tão restrito interesse em nosso país.
Pois bem, listas com o fito de canonizar escritores ou de torná-los “artistas oficiais” sempre houve. No entanto, aquele que sempre dá o parecer final a respeito de listas e de cânones é infenso a todo tipo de suborno, sedução ou bajulação, é o tempo. E é ele, e somente ele, quem faz as listas, senão definitivas, ao menos mais duradouras.
Mas o que nos interessa, na verdade, não são as listas pelas listas, mas o que elas podem suscitar de discussão, bem como alguns elementos que, em se tratando da lista em foco, estão dentro (ou fora) dela: os poetas e as suas poesias.
Então, foi por meio da lista da revista Poesia Sempre, que conheci novos poetas e busquei conhecer a obra de outros como Ivan Junqueira, se não me falha a memória, o segundo mais bem votado; de Gerardo Mello Mourão, o mais furiosamente lamentado ausente da lista; de Alberto Cunha Mello, outro ausente, grande poeta pernambucano, cuja circulação da obra deixa a desejar. Vale dizer também, ainda sobre a bendita lista, que Hilda Hilst não quis votar e pediu para não ser votada; que o poeta baiano, Ildásio Tavares, protestou, menos a ausência do seu nome, do que o fato de a edição da revista Poesia Sempre ser financiada com o dinheiro do contribuinte, categoria de que também faz parte; que o poeta Soares Feitosa, incluído e muito bem votado, afirmou que em sua lista pessoal – todos têm a sua lista também vou fazer a minha- seria GMM – inquestionável, desbancando João Cabral do Olimpo – e mais vinte; que o próprio GMM enviou uma carta à Biblioteca nacional, reiterando a sua indiferença diante de críticas e elogios à sua obra, mas lembrando dos apupos que recebera ao longo da sua vida de figuras de “calibre mínimo”, tais como Ezra Pound, Jorge Luis Borges e Carlos Drummond de Andrade, para ficar apenas nesses três; e se era para fazer marketing pessoal, poder-se-ia lembrar da sua indicação, em 1979, ao Nobel de literatura.
Dito isso, e limitando-nos apenas a isso, já que esta polêmica, não obstante aos quase dez anos do seu início, ainda reverbera nos que se interessam pela matéria, intentamos mostrar como a poesia brasileira continua viva, produtiva, instigante e, por que não dizê-lo, acessível a quem procura. E sabemos que é um número bastante significativo, dentro dos limites, é claro, do possível para um país como o Brasil, onde ler o que quer que seja ainda pode ser chamado de luxo.
Por fim, chamarei poetas – incluídos e excluídos, municipais, estaduais e federais – para falar por si próprios. Gerardo Mello Mourão e um poema do livro O País dos Mourões, em que consubstancia, com metáforas belíssimas, as lembranças de um seu antepassado, seu nascimento, vida, morte e eterna memória. Ivan Junqueira e um poema do livro Sagração dos Ossos, chamado “Onde estão?”, reflexão cheia de sensualidade sobre a vida e a morte. Finalmente, Bruno Tolentino e um poema do livro Os Deuses de Hoje, O Signo, poema sobre a procura de sentido para a vida, hermética e única, de cada um.
P. S. Os poemas acima referidos e a lista de votantes e votados serão postados nas próximas semanas.

terça-feira, 9 de outubro de 2007

UMA BREVE "HISTÓRIA" DA ÓPERA - Parte I




Em qualquer pesquisa realizada entre os brasileiros, sobre os grandes orgulhos de nossa nação, encontraremos ao lado do futebol e das belezas naturais – a música.
No entanto, a música popular será, em seus diversos gêneros (samba, bossa nova, baião, vanerão, catira etc), o destaque.
Tenho a impressão de que no Brasil, a música erudita, vive escondida em guetos, em círculos tão restritos (ou pernósticos) que dão a impressão de vivermos num regime de embargo da música clássica.

A ópera, dos gêneros musicais, é um dos mais complexos e possui uma longa história de sucesso que, em nossos dias, encontra-se basicamente reduzida às coletâneas de árias populares ou concertos de tenores em Copa do Mundo e similares. Desculpem o exagero...
Porém, visando diminuir nossas suspeitas sobre o pouco conhecimento deste gênero entre os ouvintes e leitores deste texto, resolvi realizar uma breve introdução à ópera.

ORIGEM DA ÓPERA

Caso tivéssemos como objetivo encontrar o significado resumido do que seja ópera, poderíamos dizer: A culminância (ou o mais pretensioso) dos gêneros artísticos, uma vez que pretende unir teatro, música, literatura, filosofia, voz, instrumentos, artes plásticas e dança.
Os primeiros libretos foram escritos, provavelmente, por Ottavio Rinuccini por volta de 1600. Para estes libretos, a música foi composta por Jacopo Peri.
Mas, o que vale destacar é o surgimento do canto “monódico”, ou nas palavras de Otto Maria Carpeaux “É a vitória do indivíduo sobre o coro; é o individualismo na música”.
Logo surge a ópera florentina que acompanha o estilo do barroco nas artes da época: exagero, realismo e pompa.
Neste contexto, o compositor Monteverdi aparece como uma figura fundadora.



Cláudio Monteverdi (1567-1643), além de ser um grande e revolucionário compositor de música sacra, pode ser considerado também o inaugurador da ópera moderna. Quando era maestro na corte de Mântua recebeu a solicitação do conde Vincent de Gonzague para realizar uma obra nos moldes da representação de Eurídice de Jacopo Peri.


Daí surgirá à primeira ópera de Monteverdi – Orfeo (libreto de Alessandro Striggio). Uma fábula mitológica baseada na história do poeta grego que apaixonado por sua esposa Eurídice, morta por uma cobra, decide adentrar o Hades (reino dos mortos) para convencer o deus a trazer Eurídice de volta ao mundo dos vivos.
Convencido o deus Hades, Orfeu recebe uma única condição – Não olhar para traz antes de sair do mundo dos mortos. Apesar disso, o poeta não resiste às ansiedades do coração apaixonado e ao olhar a procura de sua amada perde novamente a sua querida Eurídice. O coração de Orfeu é lançado, mais uma vez, nas sombras da tristeza e do desconsolo. Neste momento, o deus Apolo, comovido com o desespero do esposo, convida-o para o Olimpo onde encontrará Eurídice como uma estrela.
Esta fábula musical é apresentada por ocasião de um casamento. E, a partir destas bodas, a música consolidará a ópera como um dos seus gêneros mais significativos.
Porém, a importância da ópera de Monteverdi não está apenas em ser uma obra fundadora, ela servirá como paradigma para as futuras óperas. Nela encontramos em estado de crisálida o recitativo, a ária, a declamação lírica, o bel canto, o duo, o balé, o leitmotiv e a orquestra. E, é claro, os temas dos Amores (desesperados) e das Mortes (trágicas)!
Não deixa de ser emblemático que o surgimento da ópera se dê com a história de um semideus grego, poeta, cantor, apaixonado e desconsolado.
Apesar da importância de Orfeo; a obra-prima de Monteverdi é um drama histórico intitulado O Coroamento de Popéia (libreto de Giovanni Francesco Busenello).
A jovem Popéia nutre um amor interesseiro pelo imperador romano Nero. O filósofo Sêneca tenta em vão dissuadir Nero de repudiar a sua esposa Otávia e, com isso, consegue o ódio do imperador e é condenado à morte. Apesar das artimanhas envidadas por Otávia e pelo ex-amante de Popéia Othon, nada consegue evitar que Popéia se torne a imperatriz romana.
O Coroamento de Popéia marca o início da ópera com profundidade psicológica, demonstrando uma inter-relação surpreendente entre a música e a história de cada personagem.

Antecipa, também, do ponto de vista musical a ária da capo (ária da retomada) que será utilizada por Richard Wagner mais de duzentos anos depois. A audácia e a grandiosidade desta obra de Monteverdi influenciará os maiores compositores de óperas de todos os tempos, entre eles, Mozart e Verdi.
Algumas demonstrações:




quarta-feira, 3 de outubro de 2007

SEM NADA PARA DIZER - THOMAS MERTON

“ Na sociedade tecnológica, na qual os meios de comunicação e significação tornaram-se fabulosamente versáteis e estão à beira de um desenvolvimento ainda mais prolífico - graças ao computador com sua memória inesgotável e sua capacidade de absorção imediata e organização dos fatos -, a natureza mesma e o uso da própria comunicação tornam-se inconscientemente simbólicos. Embora agora tenha a capacidade de comunicar instantaneamente qualquer coisa em qualquer lugar, o homem se descobre sem nada para dizer. Não é que não haja muitas coisas que poderia comunicar, ou deveria tentar comunicar. Ele deveria, por exemplo, ser capaz de encontrar-se com o seu semelhante e debater os meios de construir um mundo pacífico. É incapaz desse tipo de confronto. Em vez disso, dispõe de mísseis balísticos intercontinentais que podem levar a morte nuclear a dezenas de milhões de pessoas em poucos instantes. Esta é a mensagem mais sofisticada que o homem moderno parece ter para transmitir ao seu semelhante. Ela é, claro, uma mensagem sobre ele mesmo, sua alienação de si e sua incapacidade de entrar em acordo com a vida.”

Escrito em 1985 e publicado no Brasil em Amor e Vida, (Martins Fontes Editora, São Paulo), 2004. p. 69

Retirado do site:http://reflexoes-merton.blogspot.com

quinta-feira, 20 de setembro de 2007

sábado, 15 de setembro de 2007

CASTA DIVA!




30 anos sem Maria Callas

terça-feira, 11 de setembro de 2007

O ESPÍRITO DA LETRA - BRUNO TOLENTINO




Ao pé da letra agora,

em minha vida há a morte e uma mulher...

E a letra dela, a primeira,

me busca e me martela

ouvido adentro a mesma despedida



outra vez e outra vez, sempre espremida

entre as vogais do amor... Mas como vê-la

sem exumar uma vez mais a estrela

que há anos-luz se esbate sem saída,



sem prazo de morrer na luz que treme?!

O monstro que eu matei deixou-me a marca

suas pernas abertas ante a Parca


aparecem-me em tudo: é a letra M

a da Medusa que eu amei, a barca

sem amarras, sem remos e sem leme...

sexta-feira, 7 de setembro de 2007

INDEPENDÊNCIA!

(François-René Moreaux)






No dia da Independência e com "visual" novo... Este blog deseja a todos um bom feriado e eu recomendo a visita ao blog do escritor Antônio Fernando Borges: http://www.antoniofernandoborges.com/

quarta-feira, 5 de setembro de 2007

UNA FURTIVA LACRIMA (Nemorino)



Una furtiva lacrima
'
Negli occhi suoi spuntò...

quelle festose giovani invidiar sembrò...

Che più cercando io vo?

M'ama, lo vedo.

Un solo istante i palpiti

Del suo bel cor sentir!..

Co' suoi sospir confondere per poco i miei sospir!...

Cielo, si può morir;

Di più non chiedo.

domingo, 26 de agosto de 2007

Mais histórias da Carochinha

Aproximam-se as eleições municipais. Estamos a pouco mais de um ano delas. Não se justifica por pressa ou precipitação, o presente texto. Até mesmo porque a eleição é apenas álibi, falaremos exatamente de um tentáculo dela, o discurso dos candidatos. Já posso ouvir, inclusive, um murmúrio nas ruas sobre as eleições para as eleições, aquela coisa do candidato a candidato, as chamadas prévias. E já posso entrever a ferrugem da língua, o rangido dos dentes – o que me faz pensar em uma máquina caduca querendo se passar por último lançamento do mercado.
Povo da minha cidade: “Era uma vez um príncipe traído e banido do seu reino, mas que agora volta de espada em punho para libertar o seu povo do jugo dos tiranos que não honraram a coroa posta em suas cabeças..., ou um caçador que matou um lobo, salvando uma idosa e uma criancinha indefesa das suas garras..., ou um sapo aparentemente asqueroso que, após um beijo do seu eleitor, virou um príncipe belo, tinindo para mais um idílio de quatro anos...”, ou qualquer outra história da Carochinha, porque todas convêm a quem gosta de ouvi-las.
Quem não conhece, por exemplo, a historinha do político, arauto dos novos tempos da era da informação, que não promete com um toque de sua varinha de condão, universalizar a educação e, concomitantemente, honrar aqueles que vivem por essa causa (poço sem fundo dos problemas sociais brasileiros). Pois bem, pensando a respeito comecei a reparar: um policial rodoviário federal ganha mais que um professor doutor de uma universidade estadual da Bahia; a grande maioria dos concursos públicos com exigência de diploma de nível médio remunera melhor que o melhor dos salários dos professores também concursados para a área de educação; até os salários para técnicos do MEC são inferiores aos dos demais ministérios; e dos professores das redes municipais pelo Brasil afora nem dá para falar, para não amargarmos a constatação de que muitos deles vivem com um décimo do salário de pessoas de mesma qualificação que atuem em outras áreas.
Talvez, por isso, eu só consiga escrever sobre esse tema sob o amparo da ironia, alegorizando com os contos de fadas, os discursos dos políticos – candidatos ou não a prefeito – e também dos intelectuais, dos professores, dos pedagogos e de todos aqueles que discorrem sobre a educação neste país, todos vítimas de uma construção discursiva irritante: a de que o futuro do Brasil depende da educação. Irritante porque isso não é coisa que se discuta, mas que se assuma. E na nossa sociedade ninguém o assume. A instituição escolar neste país é subvalorizada. Todos os seus profissionais são subvalorizados. Os alunos, as famílias, todos subvalorizados. Educar, para nós, é uma questão menor. Queremos mesmo é ficar ouvindo a melodia de algum instrumento encantado que nos conduza de ano em ano às urnas, já que, assim, quando o castelo estiver ruindo, teremos a desculpa vitimista de que não sabíamos o que estávamos fazendo.

segunda-feira, 20 de agosto de 2007

COISAS DO PARAÍSO


"João Crisóstomo disse que Deus deixou para os seres humanos algumas coisas do paraíso: as estrelas no céu, as flores no campo e os olhos das crianças. Tomás de Aquino complementa dizendo que Crisóstomo teria esquecido duas coisas: o vinho e o queijo".(Anselm Grün)

quarta-feira, 8 de agosto de 2007

(Catedral de Ulm)


Palavras de Ingmar Bergman no início do roteiro do filme O Sétimo Selo:




“Pondo de lado as minhas crenças e as minhas dúvidas, que não tem importância neste caso, é minha opinião que a arte perdeu seu impulso criador básico no momento em que se separou do culto. Ela cortou um cordão umbilical e leva agora uma vida estéril, gerando-se e degenerando-se. No passado o artista permanecia ignorado e sua obra existia para glória de Deus. Ele vivia e morria sem ser mais importante do que outros artesãos; ‘valores eternos’, ‘imortalidade’ e ‘obra-prima’ eram expressões não aplicáveis no seu caso. A capacidade de criar era um dom. Num mundo assim floresciam a convicção inabalável e a humildade natural.Hoje o indivíduo se tornou a mais alta forma de criação artística, o que é também a maior desgraça. A menor ferida ou aflição do ego é examinada sob um microscópio como se tivesse importância eterna. O artista considera seu isolamento, sua subjetividade, seu individualismo quase sagrados. Assim finalmente nos juntamos num enorme cerrado e nos pomos a balir a nossa solidão sem nos ouvirmos e sem percebermos que nos consumimos em fogo lento. Os individualistas fitam-se nos olhos e no entanto cada um nega a existência do outro. Andamos em círculos, tão limitados por nossas ansiedades que já não conseguimos distinguir o verdadeiro do falso.


'

Assim, se me perguntassem o que eu gostaria que fosse o objetivo de meus filmes, eu responderia que quero ser um dos artistas da catedral na grande planície. Quero fazer uma cabeça de dragão, um anjo, um demônio – ou talvez um santo – de pedra. Não importa qual; o sentimento de satisfação é que conta. Independentemente de crer ou não, de ser cristão ou não, eu faria a minha parte na construção coletiva da catedral”.

quarta-feira, 1 de agosto de 2007

Um Olhar Perdido no Infinito - Fábio Sena


Antes de Laércio enlouquecer de vez, era eu seu mais íntimo amigo. Acompanhei seu progresso em direção à loucura, e fui seu ouvinte mais que atencioso, quando, monologando, expunha para si – e, por conseqüência, para mim – sua visão das coisas e do mundo. Hoje, que o vejo com o olhar perdido em direção ao infinito, tenho a nítida sensação de que ele sabe quem sou, sabe o que estou pensando, mas, por algum motivo que desconheço, me inclui no rol de todos aqueles que ele ignora, neste mundo para o qual ele dedica sua mais perfeita indiferença. Fico observando esses funcionários todos que perambulam pelo corredor, e me pergunto: por quê?. Laércio, sujeito educado, cheio de pudores, filhos de pais honrados, irmão de Virgínia e de Péricles, ali, vestindo aqueles trapos indignos do grande pensador que eu conheci, alimentando-se como qualquer ser incivilizado, e com aquele olhar perdido em direção ao infinito. Se acaso eu estivesse próximo dele naquele momento fatal em que sua razão entrou em colapso, tê-lo-ia despertado; seguraria seus ombros com força, e gritaria em seus ouvidos: fique lúcido! Jogá-lo-ia no banheiro e despejaria água fria em sua cabeça. Se acaso eu estivesse nas imediações quando aquele “fio tênue que separa a razão da loucura” fosse diluído, desaparecesse, “reiniciaria a máquina”, para manter a configuração original. Mas eu estava distante o suficiente, e agora, impotente, nada mais me resta a fazer, senão olhar para ele e aguardar que desvie por um momento seus olhos - perdidos em direção ao infinito – para mim e me perceba, e me dê, por um instante que seja, a sensação de que me entende e que me ouve; que lance para mim, num rasgo de misericórdia, migalhas de sua atenção, sua lúcida atenção. Hoje, que me recordo de seus monólogos, não sei exatamente quem de nós dois está mais louco: “Nada disso faz sentido. Nutro meus instintos, mas eles não se satisfazem. Absorvo todos os ensinamentos que o mundo civilizado me pespega, mas eles me sufocam. Atravesso a catraca no ônibus, mas não entendo a razão de sua existência. Essa catraca é uma ofensa. Vejo Virgínia arrumando-se para ir no show do Fábio Júnior, mas não posso entender que ela não ouça uma única canção do Chico César. Mas se ela parar para escutar o Chico César, que lhe dará isso? Que importa Chico César e que valor tem ouvir Fábio Júnior?. Não gosto de cerveja, mas algo me diz que os homens me vêem menos homem por não gostar de beber. Não gosto de futebol, mas os homens me vêem menos homem por não gostar de esportes. E incomoda-me incomodar-me com o que pensam os homens. Pensem o que quiser, ora essa!. Poucas vezes vi Laércio sorrir. Sorria somente de suas próprias ironias e das bobagens que eu dizia. Hoje, quando ele esboça um sorriso, sei que ri de nós todos; de mim, inclusive. Bem que ele podia poupar-me, já que sou seu amigo. Bem que podia, sussurrando, confidenciar-me: “Cara, eu tô fingindo... hehehe”. Mas, tão logo desfaz o efêmero sorriso, lá vem Laércio, novamente, com aquele olhar perdido em direção ao infinito, relegando-me, novamente, à sua sarcástica indiferença. Saio do Hospital Afrânio Peixoto zangado com Laércio. Ri de mim, me faz de doido e me insulta com sua supra-lucidez. No trânsito, de volta pra casa, loucos de toda espécie me circundam, me acenam. Todos estão olhando para algum ponto fixo, mas só Laércio olha, com seu olhar perdido, para o infinito.

segunda-feira, 30 de julho de 2007

Ingmar Bergman






Hoje, no dia em que completo 32 anos de idade, fui acordado pela seguinte notícia:

- Bergman morreu.

Para quem não sabe - Ingmar Bergman – pode ser considerado o maior cineasta que já existiu e que poderá existir.


Fica aqui, mais uma vez, a minha oração para que Deus acolha esse seu “filho pródigo”!


Aqui vai a filmografia de Bergman retirada do site do Estadão:



2003 - Saraband (Saraband) (TV)
2000 - Bildmakarna (TV)
1997 - Larmar och gör sig till (TV)
1995 - Sista skriket (TV)
1993 - Backanterna (TV)
1992 - Markisinnan de Sade (TV)
1986 - Document: Fanny and Alexander
1984 - Depois do ensaio (Efter repetitionen)
1983 - Karins ansikte
1982 - Fanny e Alexander (Fanny och Alexander)
1980 - Da Vida das Marionetes (Aus Dem Leben der Marionetten)
1979 - Farödokument 1979
1978 - Sonata de outono (Höstsonaten)
1977 - O ovo da serpente (Das schlangenei)
1976 - Face a face (Ansikte mot ansikte)
1974 - A Flauta Mágica (Trollflöjten)
1973 - Cenas de um Casamento (Scener ur ett äktenskap) (TV)
1972 - Gritos e Sussurros (Viskningar och rop)
1971 - A Hora do Amor (Beroringen)
1969 - Farödokument
1969 - O Rito (Ritten)
1969 - A Paixão de Ana (En Passion)
1968 - Vergonha (Skammen)
1968 - A Hora do Lobo (Vargtimmen)
1967 - Stimulantia
1966 - Quando Duas mulheres Pecam (Persona)
1964 - Para Não Falar de Todas Essas Mulheres (For Att Inte Tala Om Alla Dessa Kvinnor)
1963 - O Silêncio (Tystnaden)
1962 - Luz de Inverno (Nattvardsgästerna)
1961 - Através de Um Espelho (Sason I Em Spegel)
1960 - O Olho do Diabo (Djavulens oga)
1959 - A Fonte da Donzela (Jungfrukällan)
1958 - O Rosto (Ansiktet)
1957 - No Limiar da Vida (Nära livet)
1957 - Morangos Silvestres (Smultronstallet)
1956 - O Sétimo Selo (Det Sjunde Inseglet)
1955 - Sorrisos de Uma Noite de Amor (Sommarnattens Leende)
1955 - Sonhos de Mulheres (Kvinnodröm)
1954 - Uma Lição de Amor (En Lektion I kärlek)
1953 - Noites de Circo (Gycklarnas Afton)
1952 - Mônica e o Desejo (Sommaren Med Monika)
1952 - Quando as Mulheres Esperam (Kvinnors Väntan)
1951 - Juventude, Divino Tesouro (Sommarlek)
1950 - Isto Não Aconteceria Aqui (Sant Händer Inte Här)
1949 - Rumo à Alemanha (Till Glädje)
1949 - Sede de paixões (Torst)
1949 - Prisão (Fängelse)
1948 - Porto (Hamnstad)
1948 - Música na Noite (Musik I Moker)
1947 - Um Barco Para a Índia (Skepp Till India Land)
1946 - Chove em Nosso Amor (Det Regnar Pa Var Kärlek)
1945 - Crise (Kris)

domingo, 29 de julho de 2007

Filosofia e realismo




(A Nau dos Insensatos - Hieronymus Bosch)



Tive, nos últimos dias, alguns problemas "computadorísticos"! Mas, acredito que agora tudo estará mais calmo.


Hoje, por falta de concentração, deixo aqui uma longa citação do livro: Padre Penido - vida e obra de D. Odilão Moura (Editora Vozes, 1995).Este trecho, trata do realismo em filosofia que, atualmente, tem ocupado a minha "meditação filosófica". Além de tratar da relação da filosofia com as ciências.


O texto trata, não de um realismo materialista ou pessimista, mas, de um realismo que significa buscar a compreensão do mundo em toda a sua dimensão (boa leitura e em breve voltarei com um texto sobre o assunto):


"Em nossos tempos, quando o homem está submergido nos interesses cotidianos, totalmente abafado pelas atividades econômicas, sociais, dificilmente encontrará o lazer indispensável para dedicar-se às coisas do pensamento puro. Perdemos grandiosas perspectivas da transcendência do saber filosófico. Conseqüentemente surgem os desentendimentos na vida social e o desgoverno da vida pessoal. Pensar bem, com idéias certas e orientadoras é o primeiro efeito do saber filosófico. Por isso, Pascal aconselha: 'Travaillons don a bien penser: voila le principe de la morale'.


Pensar bem, serena e coerentemente, não só é resultante de uma autêntica filosofia, como também, para aqueles que ainda não se afundaram na rotina diária, predisposição para penetrar o mundo das idéias transcendentes.Entrar no mundo encantador dessas idéias; eis o primeiro ofício do filósofo. Visa o filósofo a contemplação da verdade. Ele não a cria: descobre-a. Um dos mais graves erros de quem se aventura aos transcendentes vôos do pensamento está em tentar criar a verdade. A grande tentação de tantos pseudopensadores consiste em procurar estabelecer novos sistemas filosóficos. Se tantas inteligências geniais fracassaram neste intento - um Descartes, um Leibnitz, um Bergson, e muitos outros - não serão os diletantes em filosofia que revolucionarão, com suas elocubrações imaginativas, em geral repassadas de vaidade e presunção, o mundo do saber transcendente. O desejo de ser original destrói inicialmente o trabalho filosófico.


Qual o propósito do verdadeiro filósofo? Descobrir a verdade, esteja ela onde estiver, e contemplá-la. Contemplá-la não nos panoramas de uma imaginação criadora (Bergson nos mostra a 'função fabuladora' dos povos da sociedade estática), nem nos altiplanos da própria inteligência desligada do real, mas nas coisas tais como são. Docilidade ao real, ter os pés na terra, elevar-se acima do saber científico para mais bem coordená-lo, explicar a linguagem acessível o mistério do universo, tal é a tarefa do filósofo. S. Tomás, mestre do realismo, ensina-nos: 'O estudo da filosofia não visa saber o que os homens pensam, mas qual seja a verdade das coisas'(...).


O filósofo é o profissional da verdade. O filósofo Bergson é coerente quando afirma: 'Para mim uma só coisa conta, uma só me atrai: a verdade. Nada mais desejo conhecer, senão a verdade'.Há sistemas filosóficos alheios ao real. Na história da filosofia surgem amiúde. Contudo, não devem ser simplesmente abominados tais sistemas, pois além de manifestarem um sincero esforço de seus formuladores para a procura da verdade, não raro elementos de verdade encontram-se perdidos nos seus conteúdos. Estas palavras de S. Tomás ilustram essa afirmação: 'É justo sermos gratos para os que nos auxiliaram na aquisição da verdade. E isto é verdade, não somente em relação aos que menos estimamos terem encontrado a verdade e cuja opinião seguimos, mas também para aqueles que a procuraram superficialmente e dos quais nos afastamos. A eles também somos devedores: propiciaram-nos ocasião de nos exercermos na procura da verdade'(...).


A filosofia é o mais elevado conhecimento humano. Transcende, como vimos, ao saber das ciências. Embora delas use para desenvolver o seu exercício, a filosofia as domina do alto, define para cada uma o seu objeto, impede que uma ultrapasse os próprio limites, coordena-as, especifica-lhes os princípios. Muito Elucidativo é este texto de Boschenski, no qual bem se configura a natureza do saber filosófico: 'A filosofia é a ciência dos fundamentos da realidade. Lá onde as outras ciências param, onde sem mais indagar aceitam os pressupostos, entra o filósofo e começa investigar. As ciências conhecem, mas o filósofo pergunta o que é o conhecimento; as outras ciências estabelecem leis - ele põe a questão do que seja uma lei; o homem comum e o político falam de fins e utilidade - o filósofo pergunta o que se deve entender por fim e por utilidade'".

quarta-feira, 18 de julho de 2007



Estava preparado para atualizar o blog hoje com um texto sobre o realismo como caminho filosófico... Após o acidente de ontem no Aeroporto de Congonhas, prefiro, colocar aqui essa vela (virtual) e um pedido à Providência Divina que olhe por todos os envolvidos nesse terrível acidente.





domingo, 8 de julho de 2007

MÁXIMAS E AFORISMOS (2)

'
"O homem sério tem poucas idéias. Um homem de idéias nunca é sério."
(Paul Valéry)

sábado, 30 de junho de 2007

Brasilândia




Finlândia, Islândia e Nova Zelândia são três dos países com menor índice de corrupção do mundo, segundo dados da Transparência Internacional. Rebatizar o Brasil como Brasilândia seria uma rima, não uma solução. Solução mesmo seria os brasilandeses, digo, brasileiros, reverem os seus critérios de escolha e, sobretudo, de acompanhamento (depois da escolha já feita) da vida pública dos nossos políticos. Mas o nosso foco aqui não é corrupção, é educação, filha bastarda e renegada do Estado brasileiro.
Sim, no Brasil, a educação, precária, é a filha da outra, na casa da madrasta, enxovalhada e à espera de uma fada que lhe dê um vestido de princesa e uma carruagem que a leve dignamente ao baile. Mas o que tem acontecido no nosso conto de fadas é que a carruagem já é aboborificada muito antes da meia noite. Em palavras menos cifradas, a educação, exceto em discursos sazonais, não tem importância alguma. E a autoria do discurso demagógico, aqui, não é das autoridades e competentes apenas, mas também dessa vítima eterna dos males do mundo que é o cidadão comum.
Reiterar, aqui neste texto, que a camarilha que comanda o país está se lixando para a formação moral, intelectual ou mesmo técnico-profissional de qualquer cidadão faz-se desnecessário. Até mesmo porque isto não traria nenhum benefício àqueles que só legislam em causa própria e nunca dão ponto sem nó. Pois bem, aquela Finlândia a que nos referimos acima – e não por coincidência – aparece também no topo das estatísticas sobre educação. E é com esse dado que encerramos o nosso primeiro propósito: dizer que menos bandalheira, menos cinismo, menos demagogia, menos incompetência é igual a mais e melhor educação e a mais e melhores oportunidades.
O nosso segundo propósito é dizer que os adjetivos pouco amigáveis com que tratamos a corja do nosso Estado são aplicáveis, mutatis mutandis, a nós, cidadãos. A nossa apatia é a mãe negligente dos irresponsáveis, cínicos, demagogos e incompetentes que nos governam.O discurso da educação como tábua de salvação do país não é, pois, hipocrisia somente do pessoal de Brasília, mas do pai, da mãe, do jovem, do próprio professor, enfim do brasileiro médio, que repete, repete, repete idéias que não pratica, até exauri-las, transformando-as em um mantra estéril, e o pior, acreditando que é possível fazer omelete sem quebrar os ovos.
Do que tratam exatamente as abstrações e figuras do parágrafo acima? De que votamos mal, nos informamos muito pouco e mitificamos as informações que recebemos; de que as famílias de classe média priorizam os veraneios, as roupas, as festas, para ficarmos apenas no âmbito material, em detrimento das exigências pecuniárias da boa formação de um filho; de que escola privada virou no Brasil uma concessionária de jovens, sim, c-o-n-c-e-s-s-i-o-n-á- r-i-a, onde se põe um veículo com problema e se espera que ele saia tinindo, à revelia da responsabilidade do motorista que, coitado!, já arcou com os altos custos do conserto; de que escola pública tornou-se um monumento ao atraso e à desesperança: cara, ineficiente e palco de reivindicações inconseqüentes, desgastadas, obsoletas e muito escassa em resultados.
Mas, sem perder a esperança nas instituições nem nos homens, ainda espero vivenciar dias melhores, se não como fato concreto, ao menos como projeto, para a Educação no Brasil.

P.S.: Encerro, sem mais delongas, esse texto, porque voltarei a falar, sob outras perspectivas, acerca do mesmo assunto.


Vanderli Marques.

quarta-feira, 27 de junho de 2007

BRUNO TOLENTINO

Hoje eu acordei com uma sensação estranha. Pensei em muita coisa... “paranoicamente”.

Na correria do trabalho e dos afazeres cotidianos só consegui saber, agora há pouco, que um dos maiores poetas da história da língua portuguesa faleceu hoje, na manhã de hoje.





Bruno Tolentino, que Deus lhe guarde!

Um poema, do próprio Tolentino, sobre perdas:

ARTIMANHAS DE ISABEL BISPO
Uma arte toda sua
'
a arte de perder vem com facilidade
em tantas coisas há uma tal propensidade
um tal amor à perda, que dá mesmo vontade
'
de perdê-las. De início, perde um item por dia:
molho de chaves, papelada, a hora vadia
esperdiçada - perde e aprende a mais-valia
'
da arte desastrada de perder... Mais à frente
perde com mais audácia, sê bem mais diligente:
perde nomes, lugares, a viagem iminente
'
que ficou por fazer, entre um talvez e um quando.
Perdi o relógio de mamãe e um dia, olhando
minha última casa ir se juntar ao bando
'
das que se haviam ido, fiquei bem deprimida,
sofri, mas não morri. Afinal, é a vida.
a arte de perder, desastrosa e fingida,
'
despede-se mas volta: perdi duas cidades
(belíssimas!), um rio e, trêmula de saudades,
perdi um continente inteiro! Mas quem há de
'
esquivar-se a um mistério, se a arte de perder,
desastre ou não desastre, é algo inerente ao ser?
Perder-te, por exemplo, pouco a pouco esquecer,
'
ou já nem ver direito um gesto teu, um modo
todo teu de dizer... Aceito-o; não de todo,
é claro, algo se insurge, escapa, cai no lodo
'
de enxurrada da vida, mas que se há de fazer?
Eu recomendo dar de ombros, pois perder
dói sim, mas (toma nota!) ensina-te a escrever..."

segunda-feira, 25 de junho de 2007





Vida e Morte no Sertão - História das Secas no Nordeste nos Séculos XIX e XX -, de Marco Antônio Villa, é um estudo, sem ranços academicistas, sobre um dos maiores tabus da história do Brasil: A seca no Nordeste. O livro é dividido em cinco capítulos, entitulados a partir de obras importantes da literatura nacional que se aventuraram a narrar os descaminhos dos sertanejos obrigados a conviver com este flagelo, e remete a momentos marcantes, característicos da trajetória do problema: "No primeiro, a lembrança foi para O sertanejo, de José de Alencar, publicado em 1875. O segundo recebeu o título de Os Retirantes, livro de José do Patrocínio, publicado em 1879. O quinze, livro de Rachel de Queiroz publicado em 1930, foi dado ao terceiro, e Vidas Secas, de Graciliano Ramos, publicado em 1938, foi reservado para o quarto. O último capítulo ganhou o título de Essa Terra, livro de Antônio Torres publicado em 1976 e que tematiza o retorno do nordestino que fracassou em São Paulo". Os motes extraídos do universo da Literatura, diga-se, desde o título, são muito bem explorados. A discussão do problema na sua dimensão política e o arrolamento de diversos aspectos pitorescos que envolveram - e envolvem - as tentativas de solução também não deixam a desejar. No mais, boa leitura.

sábado, 23 de junho de 2007

Ah! Mês de Junho (confissões de um exilado)


(http://www.rosanevolpatto.trd.br/festajunina.htm)




Para mim, o mês de junho é o melhor mês do ano! E são tantos os motivos que só listarei alguns aqui...

É o começo do inverno... E adoro o frio!

Mas, não posso negar que os festejos juninos são, ao meu ser, o período festivo mais que perfeito!

Veja bem, no mês de junho, a Igreja Católica celebra a vida, o exemplo de santos memoráveis e, nós, nordestinos, aproveitamos o lado sagrado e forrozístico destes dias.

No entanto, além dos “santos festeiros”, o calendário litúrgico deste mês celebra no dia 11 São Barnabé que ao lado de São Paulo (e por indicação do Espírito Santo) levou a mensagem evangélica ao ocidente.

No dia 21, temos o patrono dos jovens que tem um nome emblemático para os festejos juninos – São Luiz Gonzaga!

O dia 22 é reservado para São Paulino de Nola que foi amigo de Santo Agostinho e motivou o então bispo de Hipona a escrever um livrinho precioso – O cuidado devido aos mortos.

E lá no dia 28, temos santo Irineu de Lião. Um dos maiores defensores do catolicismo nascente.

Não, eu não esqueci que no dia 13 de junho a igreja e os solteiros festejam um dos mais brilhantes pregadores da Igreja, aquele que pregou até mesmo para peixes – Santo Antônio!

Nem que no dia 24 festeja-se, surpreendentemente, o nascimento de São João Batista. Aquele santo que vivia no deserto e que ainda no ventre de sua mãe alegrou-se com a presença da mãe do Salvador.

E Pedro? A pedra sobre a qual foi edificada a instituição mais antiga do mundo. O santo que acreditou, seguiu, negou e morreu em amor ao Salvador.

O mês de junho, o frio, o amendoim cozido, o quentão, o milho, o forró, o forró, o forró e a saudade deste exilado do nordeste, exilado do sertão, exilado de Conquista, exilado de mim mesmo a mais de cinco “são joãos!”

Não poderia encerra este texto sem uma citação musical:


CANÇÃO DA SAUDADE
(Amelinha - Acyolly Neto)

Quando lembro de você
Sinto uma coisa
Que remexe lá por dentro
Como se fosse
Reviver cada momento
Das alegrias
Que marcaram nosso amor
Quando lembro de você
Dá uma vontade de chorar
Que eu não seguro
Sinceramente meu amor
É muito duro
Foi tão gostoso
Que é difícil de esquecer

Ai! Quando lembro de você
O peito aperta
A boca seca e o olho chora
Daria tudo pra lhe ver
De novo, agora
Pedir perdão
E nunca mais largar você
Pra que serve o espinho
Sem a flor
De que vale a vida sem amor
De que adianta eu
Sem ter você
Amor deixa disso
E vem me ver
Essa música pode ser escutada na Rádio Uol.

quinta-feira, 14 de junho de 2007

MÁXIMAS E AFORISMOS (1)




"seja quente ou seja frio, não seja morno que eu te vomito"

(Apocalipse 3:16)
Tentarei, na medida do possível, postar neste blog, a partir de hoje e com uma freqüência, pelo menos, quinzenal... algumas frases, máximas e/ou aforismos (clássicos, modernos, populares ou inventados) para "meditação".

Resolvi iniciar esta seqüência com essa que é a minha “frase preferida”.

segunda-feira, 11 de junho de 2007

MUITO BARULHO POR NADA (PARTE I)



O Grito, Edward Munch (1895)





Much ado about nothing! Tomo emprestado o título de uma das peças de Willian Shakespeare, (uma comédia, diga-se de passagem) autor de uma grande obra artística, para falar de obras medíocres. Na verdade, nem pretendo falar propriamente das obras em si, mas da repercussão que elas costumam galgar entre os que não têm conseguido olhar além das lentes furta-cor e ilusionistas do marketing da indústria dos chamados best-sellers e da indústria cinematográfica norte-americana – capaz de transformar, ao menos no mundo das imagens, qualquer gatinho em leão e qualquer cravo em orquídea – e da lente embaçada e distorcida do desconhecimento – capaz de transformar qualquer falador em mestre e qualquer espertalhão em rei. Estou me referindo ao frenesi que, de quando em quando, livros como O Código Da Vinci e o filme homônimo, o recente documentário sobre a descoberta do suposto túmulo do Cristo, The Lost Tomb of Jesus, dirigido por James Cameron, geralmente provocam na opinião pública. Obras discutíveis em vários aspectos, inclusive no âmbito estético, elas têm suscitado, ao longo de muitos anos, inúmeros debates e preocupado inclusive a cristãos, e não poucos líderes cristãos. Contudo, uma primeira pergunta me ocorre, tais obras são dignas de tanta atenção e de tanto terror por parte dos seguidores de Cristo? Como um deles, creio que não. Para mim, se trata, vez após vez, de “muito barulho por nada”.

Há um ditado, se eu não me engano de origem árabe, que diz algo bem apropriado para essa minha reflexão: “a ignorância é vizinha da maldade”, mas nós temos um ditado que nos lembra disso também “em terra de cego quem tem um olho é rei”. Pretendo explorar esses ditados, aparentemente singelos, mas muito oportunos, para falar dos surgimentos dessas novidades que, para muitos, podem por em risco a perpetuidade do Cristianismo. Espero, por hora, que o caro leitor apenas reflita sobre eles enquanto seguimos nessa conversa.

Antes de ir adiante, quero deixar bem claro o que não pretendo e o que pretendo fazer nesse texto. Em primeiro lugar, não tenho a intenção de fazer uma análise profunda dos livros ou dos filmes e documentários aqui citados (que Deus nem os homens peçam tanto de mim). Limito-me a tão somente fazer algumas breves observações de caráter meramente ilustrativo, a fim de tornar evidente por que considero o frenesi em torno dessas obras “much ado about nothing”. Uma exposição minuciosa da análise dessas obras demandaria um volume, não pela sua profundidade, mas pela quantidade e pelos inúmeros problemas que elas têm. Não tenho tempo, nem paciência para fazer tal exposição. Na verdade, eu me recuso a fazê-lo. Em segundo lugar, não pretendo fazer uma defesa do Cristianismo diante de tais obras. Certas tarefas se constituem em obrigações muito aborrecidas. Uma delas é falar de uma má obra. Uma outra que, para mim, é essencialmente aborrecida, é a tarefa de ter que fazer apologia do Cristianismo diante de obras tão inconsistentes e sensacionalistas como o é, por exemplo, o badalado Código da Vinci de Dan Brown. Já enfrentamos inimigos mais expressivos que este suspense policial, mal elaborado, e este filme sem sal da Sony que, como outras produções cinematográficas recentes, demonstram a tacanhice da cosmovisão norte-americana reproduzida por Holywood. Mais uma vez, Holywood mostrou que é capaz de filmar qualquer coisa que venda. Ter que sacrificar o tempo que poderia ser gasto com um bom livro e um bom filme para ter que ler e ver O Código Da Vinci me deixa bastante aborrecido, quanto mais ter que defender uma fé que se mantém viva por séculos e que resistiu, heroicamente e dignamente, a tantas oposições mais qualificadas que obras desse quilate.

Já digo desde agora: para mim, o Cristianismo que for abalado por esse tipo de obra é um “cristianismo” fraco e falso. Não estou preocupado, por exemplo, com os devaneios do senhor Brown, ou de qualquer outro pseudo-historiador. Estou sim, alarmado com o nível de nossas preocupações. O alarido que elas têm insistentemente suscitado no meio cristão. É triste pensar que representantes de uma fé que resistiu a tantas intempéries, a tantos adversários, vez por outra, tenha que se desocupar de coisas importantes para comentar tais produções. Em um breve retrospecto dos que tentaram desconstruir a nossa fé ao longo da história, logo percebemos que estivemos diante de oponentes que, com toda a certeza, ririam se ao menos ouvissem falar que, nós cristãos, nos sentimos atemorizados diante de obras como O Código Da Vinci.

Halysson

quarta-feira, 6 de junho de 2007

Um poema de Adriano Espíndola

LÍNGUA-MAR

Adriano Espíndola


A língua em que navego, marinheiro,
na proa das vogais e consoantes,
é a que me chega em ondas incessantes
à praia deste poema aventureiro.
É a língua portuguesa, a que primeiro
transpôs o abismo e as dores velejantes,
no mistério das águas mais distantes,
e que agora me banha por inteiro.
Língua de sol, espuma e maresia,
que a nau dos sonhadores-navegantes
atravessa a caminho dos instantes,
cruzando o Bojador de cada dia.
Ó língua-mar, viajando em todos nós.
No teu sal, singra errante a minha voz.

segunda-feira, 4 de junho de 2007

Elomar Figueira Mello: Concerto Lá na Casa dos Carneiros

De todos os atributos de Elomar Figueira Mello, talvez o mais pertinente seja o de “menestrel”, do latim tardio, ministerialis, que significa músico, “cantador de trovas e martelo, de gabinete, ligeira e moirão”; cantor “de fé e firmeza”, a serviço de um rei, “intregui nas Guarda de Deus”, “Pois sem Ele a idea é pensa pro cantá/ e pru tocá é mensá mão”. Menestrel também nos lembra ministro e ministério, de fato, as canções de Elomar buscam escapar às vicissitudes da história, enquanto sejam elas oferecidas à glória de Deus e à edificação de seu povo. É por isso, que na Casa dos Carneiros, os violeiros cantam louvando...

E foi daqui, da Casa dos Carneiros, que Elomar surgiu. A música que se ouve dessa nave admirável, de proporções tão simples quanto perfeitas, abriga as mesmas proporções que aquelas utilizadas pela arquitetura, aliás, as mesmas que regem o universo. E assim como a harmonia governa a beleza do céu, ela governa a música e se encontra numa relação de concordância com o universo e com o homem — mas o homem do sertão profundo, daí porque o uso da linguagem dialetal sertaneza.

Pois haveria melhor forma de exprimir o que se deu lá no “Sete Istrêlo” com “Dassanta a Fulô/ filha de um tal cantadô/ Anjos Alvo Sinhorin”, “bunita qui inté fazia medo”? Existiria outro meio de cantar o “turuna pachola” e sua função de “arrilia”? “Aqui, a palavra reencontra sua verdadeira vocação, a de dizer”, como lembram Ernani e Adelina. Talvez mais que isso porque a palavra em Elomar torna-se cantante e apaixonada, uma fantasia poética.

Mas essa palavra é verdade. Ouça-se, por exemplo, a Fantasia Leiga Para Um Rio Seco, a narrativa da Seca do Noventinha que assolou o sertão no fim do século XIX. A obra, emoldurada pela Sinfônica da Bahia, ainda contou com a orquestração e a regência do saudoso maestro Lindenbergue Cardoso. Pelo refinamento do seu motivo e pela riqueza da sua melodia, por seu poder de invenção e por seu refinamento, a Fantasia possui um raro detalhe: ela faz surgir em Elomar uma nova cultura orquestral de grandes dimensões.

[Canta Lucas d’Oro, “O Peão Engaiolado”]

Exposição “Brasil de Portinari”

Batidos dos sois bravios... fugindo à desolação e à miséria... muita gente viu aí, pelas horas mortas, tripúdios tetérrimos de esqueletos à luz de fogos-fátuos, cadenciados por uivos de cães e pios de noitibós... no ano passado muito rasto e pouco pasto, hoje muito pasto e pouco rasto... e por cima de tudo isto, a fome... pru vai-num-torna vamo ritirano a abadonano as pátra do sertão...

O sertão profundo que se reconhece no canto e no violão de Elomar, mesma aceitação que se dá ao contemplar o “Brasil de Portinari”. Diante de seus matizes, podemos dizer, como Guilherme Figueiredo, “assim somos”. E poderíamos dizer muitas outras coisas sobre o pintor de Brodowski, porém, é mais pertinente lembrar o que Cândido Portinari diz de CÂNDIDO PORTINARI:

“Vim da terra vermelha e do cafezal.

As almas penadas, os brejos e as matas virgens

Acompanham-me como o espantalho,

Que é o meu auto-retrato.

Todas as coisas frágeis e pobres

Se parecem comigo”.

[ Abertura da Exposição: João Cândido Portinari, presidente do Projeto Portinari]

[Este texto foi escrito para ser lido durante o concerto “Lá na Casa dos Carneiros”, por ocasião do lançamento da Fundação Casa dos Carneiros e da exposição “Brasil de Portinari”. Porém, ele não tem autoria, talvez tenha autores, porque que é texto de outros textos, é um intertexto que se imprimiu como um efeito de obra, isto é, como uma laguna, regato ou cacimba, de sabe-se de que mar e sabe-se de que rio. Poder-se-ia dizer que este texto é uma voz de alhures, ela vem lá de onde ninguém fala, do lugar em que todos os cantos têm arte e toda ela é cantada, finalmente, ela veio na madrugada das fórmulas poéticas.]

domingo, 3 de junho de 2007

DAS RHEINGOLD

Para quem ficou interessado em conhecer a ópera épica "O ouro do Reno" de Richard Wagner, citada na entrevista do filósofo Ricardo Araújo, aqui vão dois link(de versões diferentes) do Youtube:

http://www.youtube.com/watch?v=N5mgAGI9R-o


http://www.youtube.com/watch?v=f8moXqY242s

sábado, 26 de maio de 2007

ENTREVISTA - RICARDO ARAÚJO


UMA CONVERSA SOBRE A FILOSOFIA




Ricardo Araújo é filósofo com doutorado pela UFRJ. Nesta entrevista (realizada por email) ele conversa sobre a filosofia e o filosofar, sobre a literatura como abertura para o pensamento, sobre Nietzsche e Heidegger e sobre a possibilidade/tarefa do pensamento hoje.




- O que levou você à filosofia?


Conheci a Filosofia através da literatura. Por volta dos dezessete anos, fiquei viciado em literatura russa: Tolstoi, Gorki, Tchekov e, acima de todos, Dostoievski. Fiquei muito curioso com um tal de Nietzsche, que as introduções aos romances costumavam mencionar, ligando-o a Dostoievski, de forma muito próxima e através de uma palavra estranha, “niilismo”, que eu acreditava derivar, de algum modo, do nome “Nietzsche”. Na mesma época, li “O lobo da estepe”, de Hermann Hesse, e fiquei absolutamente fascinado pela obra. Mas fiquei ainda mais impressionado pelo fato de ter lido em algum lugar que o personagem central, Harry Haller, havia sido inspirado naquele mesmo Nietzsche que ligavam ao meu ídolo russo. Daí para as primeiras leituras do filósofo foi uma questão de necessidade intelectual. Li de uma só vez todas as obras que encontrei, quase sempre nas edições da Ediouro, com suas traduções horríveis, mas valiosas pelo pioneirismo e pela acessibilidade.

Em virtude desse encontro, em uma época de enorme avidez intelectual acompanhada por igual imaturidade, não poderia haver outro resultado senão virar um nietzschiano da pior espécie, daqueles que Nietzsche confessava temer e que caricaturou como “os seguidores” em seu Zaratustra. Arrisco-me a dizer que a figura do burro, adorado como um deus no final da obra, é parcialmente composta por esta idéia do “seguidor”, o que pode ser deduzido da sua resposta a tudo que lhe é dito: “Mas a isto o burro disse ‘I-A’”.

Então, passei quase quinze anos dizendo “I-A” a tudo que Nietzsche havia dito, só conseguindo me libertar da minha própria imaturidade de discípulo quando terminei minha dissertação de mestrado sobre a “vontade de poder”, deixando como resultado dessa jornada: uma dissertação, alguns artigos, algumas palestras, a leitura obcecada e inúmeras vezes repetida de tudo que ele escreveu e de incontáveis obras de comentadores. Aí, depois de me tornar um “especialista” em Nietzsche, parei de ler qualquer coisa escrita por ou sobre ele, não voltando a fazê-lo até hoje, e fui conhecer a Filosofia, por mim mesmo e não mais guiado por seus olhos, embora seja profundamente marcado por algumas idéias nietzschianas e deva admitir que ele tocou a Verdade de um modo que poucos fizeram.


- O que é a filosofia?


Essa é a pergunta que Platão lançou de forma sub-reptícia no “Sofista” e que virou parte da própria Filosofia. De fato, esta começa apenas a partir de Platão e só se torna digna desse nome quando, ao mesmo tempo em que tenta “aprisionar” os entes na linguagem e ligá-los ao que é (ao ser), ela se mantém navegando no leito daquela pergunta. Assim, a Filosofia é aquele pequeno (em relação à duração e à quantidade, mas não ao significado) recorte na linguagem que consegue se manter nas três exigências mencionadas, ou seja, a Filosofia é um discurso simultaneamente: 1) fundado em si mesmo, o que só ocorre à medida que se questiona radical e permanentemente; 2) capaz de reter, unívoca e essencialmente, os entes para os quais se volta, sejam eles quais forem (a linguagem, o homem, a liberdade, o belo ou, por outro lado, o político, o amor, o riso, a técnica, etc.); 3) voltado para a totalidade do que é, a cada vez que se volta para um ente qualquer.



("cena" da ópera O Ouro do Reno de Richard Wagner)


- Qual a necessidade da filosofia no mundo contemporâneo?


Qual a necessidade da fundação de uma casa para aqueles que nela habitam?

O mundo contemporâneo foi erguido, em muitos aspectos, sobre o percurso histórico da Filosofia. Mas exatamente por ter servido como fundamento, a Filosofia não “aparece” mais, não pode ser vista, a não ser por aqueles que conhecem a construção histórica em que estamos. Para estes, o mundo está repleto do selo da Filosofia: da organização política à vigência da técnica; da cristandade às ciências particulares; do senso comum às crises éticas. Muito do nosso modo de vida, de nossas instituições, de nossa linguagem, de nosso modo de pensar mais cotidiano são desdobramentos de pensamento filosófico, ainda que subterrâneo, diluído, utilizado, desvirtuado, etc..

Por outro lado, não faltam “idiotas da objetividade” para menosprezar aquilo que não podem compreender, o que nos leva a ouvir tolices que vão do cotidiano e ingênuo “pra que estudar esses homens mortos?!” ao cientificista e arrogante “só o saber científico é válido”. Mas até mesmo o utilitarismo e o positivismo, esses “filhos feios e embaraçadores” surgem da Filosofia e a ela retornam, ainda que de forma capenga, quando precisam dar razão de si mesmos, configurando aquilo que Dostoievski chamou de “semiciência”, um saber que não chegou até onde deveria e que, por isso mesmo, não sabe de si.

Volto então à pergunta. Há, ainda, alguma necessidade da Filosofia? Ou não será, talvez, que nunca houve uma e que a Filosofia pertence àquele âmbito do abundante, do transbordante de si mesmo que, no fim das contas, caracteriza a liberdade humana? Se for assim, a Filosofia pode ser comparada ao ouro do Reno da fábula wagneriana: aquele que amaldiçoasse o amor poderia forjar desse ouro o anel do poder, tornando-se imensamente poderoso; aquelas que o guardavam se extasiavam com ele, desfrutando-o; porém, para além dessas perspectivas, mesquinhas ou não, o ouro do Reno brilhava em si mesmo, gratuitamente, em toda sua abundante plenitude.


- O que é fazer filosofia hoje?


Difícil fugir do diagnóstico heideggeriano... Por razões de tipos diversos, econômicas, históricas, sócias, mas, no fundo, ontológicas, como destino/envio do ser, há muito que a Filosofia se tornou uma atividade técnica, isto é, acadêmica, erudita, operacional e, portanto, produtiva, geradora de resultados que alguns chegam a considerar “científicos”), . Todavia, isto não significa que, longe desse burburinho, ela não esteja viva, ainda que como em um casulo, metamorfoseando-se em figuras que não conhecemos, mas cuja possibilidade Heidegger, por exemplo, tentou indicar com sua obra madura, especialmente com o que ele denominou o “Andenken”, um pensamento voltado para o ser, não mais como fundamento ôntico, como causa última do real, mas como aquilo que há e que a Filosofia, antes de se dissolver nas ciências, em particular, e na constituição do mundo contemporâneo, em geral, buscou indicar.


- Qual a tarefa do filósofo num tempo de relativismo, como o nosso?


Se “tarefa” for compreendida como dever, como norte, diria que é não fazer filosofia como técnica. É sair das correntes, linhas de pesquisa, áreas de interesse e tudo aquilo que caracteriza o academicismo contemporâneo. Isto não significa sair do meio acadêmico no sentido prático, isto é, deixar de lecionar, de publicar em periódicos especializados, de participar de congressos, etc., mas significa pensar com uma pretensão que talvez não caiba em tais práticas e que, certamente, não será bem vista pelas perspectivas correspondentes; significa arriscar o olhar na direção daquilo que moveu os filósofos, daquilo que fez reluzir o “ouro do Reno”, em vez de olhar para seu reflexo, escarafunchando-o tecnicamente com um perene “I-A”.